Nós vivíamos em pequenas cabanas bem próximos dos ventos, testemunhando a sábia transferência de essência entre todas as coisas, inclusive entre as estações.
A gente percebia que a transpiração das águas, das plantas e animais formariam a chuva amanhã e o pássaro que morria entre as folhas secas do outono alimentaria o carvalho ao redor do qual nossos bisnetos comemorariam o fim do inverno.
Então fomos expulsos do paraíso, ou nos afastamos dele sozinhos, o que você acha?
Passamos a construir casas maiores, muros, edifícios, cidades, luzes, condicionadores de ar e salas escuras onde substituímos as histórias ao redor de fogueiras por um retângulo onde tudo é possível.
Começamos a delirar com mundos infinitos, riquezas incalculáveis, poder ilimitado.
O toque de Midas não transforma as coisas em ouro apenas. Ele promete quebrar a corrente de transferências que inspirou Lavoisier: “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
À primeira vista parece que ninguém mais acredita no velho mito de Midas, mas então vem uma tal Steron prometer energia grátis e ilimitada produzida do nada.
Ela não é a primeira, nem deve ser a última.
Em nossa insanidade nos animamos diante da promessa de energia ilimitada para transformar a noite em dia, o inverno em verão e o verão em primavera, mas esquecemos dos custos disso.
Se hoje o colapso do sistema climático está marcado para algum momento entre 2020 e 2050 com energia ilimitada podemos esperar o caos em questão de meses.
Ainda que sejamos capazes de baratear substancialmente a produção de energia não é disso que estamos precisando, mas de uma distribuição mais justa da que existe.
Isso se decidirmos ignorar nossas reais necessidades:
- Acesso universal ao conhecimento (medicina, filosofia, história…)
- Compreensão da nossa diversidade cultural, racial e religiosa (e não uma precária tolerância)
- Buscar uma cultura dedicada não ao consumo, mas ao conhecimento
Isso para citar somente as que me ocorrem agora.