Viramos o ano vestindo, pedindo e cantando a paz, mas que paz é essa?
A paz não é um objeto, também não é o estado alcançado na ausência de conflito. Quando pedimos paz temos que lhe dar um corpo ou uma alma.
O ano se inicia no Rio de Janeiro com a declaração de guerra ao dito terrorismo do tráfico. Esse é um bom exemplo da paz que perseguimos que não passa da tentativa vã de afastar de nós o conflito.
A confusão a respeito do que perturba a paz se reflete nas palavras do presidente que define como terrorismo o que houve no Rio e se prepara para combatê-lo com “…a política forte e com a mão forte do Estado brasileiro”, mas ao mesmo tempo afirma que a violência é “erros históricos acumulados por toda a sociedade brasileira”, que há “um processo de degradação da estrutura da sociedade brasileira” e que é preciso que “Porque é preciso que a família brasileira seja a base, o alicerce dessa sociedade pujante que nós queremos criar.”
Afinal é terrorismo e deve ser combatido com força ou é degradação moral que deve ser curada com educação, saúde, cultura, arte, justiça e cidadania?
Terrorismo é o que a mídia e a própria classe política fazem conosco ao atribuir ao caos da marginalidade uma intenção e organização que eles não tem. Talvez tenham alguma organização, porém muito menos do que aquela dos grupos terroristas e certamente não tem outra intenção além de roubar enquanto atrás dos grupos terroristas há justificativas ideológicas para déspotas que desejam tomar o poder, geralmente financiados por alguma grande nação.
O crime deve ser contido, é claro, mas descer sobre ele o braço cada vez mais curto da lei faz lembrar do fundamentalismo religioso medieval que aconselhava “se os seus olhos te ofendem, arranque-os!”. E cegos estaremos prontos a vagar entre o caos sem nada ver e sem nada resolver…
2007 começa hoje, o que você vai fazer para ter o que comemorar no dia 31 de dezembro?