Essas duas pessoas somos eu e minha esposa meio dia e quarenta na fila do posto de vacinação do Museu da República no Catete. Fomos lá pois antes fomos na consulta médica para sermos analisados e constatar nossa hipertensão e obesidade que nos colocam sob um risco maior se pegarmos a covid-19 de novo (é… pegamos em dezembro, mas por muita sorte, e pq não tomamos remédios malucos, foi muito leve).

Sobre as nossas cabeças nuvens carregadas prometendo chuva a qualquer momento e atrás de nós fisicamente e à frente temporalmente, provavelmente umas boas horas de fila até chegar nossa vez de receber a vacina.

“Vamos tentar outro posto de vacinação? Tem aquele onde uma amiga está vacinando!”

Foi o começo de uma jornada depois de 14 meses em que não saímos do nosso prédio mais de 15 vezes! Ela, umas três!

Aliás, no caminho para o médico já começaram os choques com o mundo vendo duas pessoas no sinal pedindo comida porque passavam fome abandonadas pelo governo. Apesar disso o mundo não parece ter mudado tanto quanto o nosso jeito de vê-lo. Tinha muita gente de máscara, algumas sem, principalmente na orla, mas o que nos causava estranheza mesmo era o mundo em si. Parado lá. Mais ou menos como sempre esteve…

Mas, então, saímos da fila, pegamos um uber de janelas abertas e fomos lá para a Tijuca. Tentei confirmar se o posto funcionava sábado, mas já estávamos lá quando vimos que era só até meio dia hahahahaha! Nem saímos do uber, mudamos o endereço para o corpo de bombeiros de Copacabana que, de acordo com o site oficial do governo, funcionava até 17h.

E passa pela padaria onde, pouco antes da pandemia, fiquei esperando os amigos enquanto iam no centro espírita, a rua onde morei há muito tempo quando voltei de Brasília ainda pré-adolescente, lembranças e comparações com o passado. Realmente o mundo não parece ter mudado muito… Também não teria mudado se os mais de 400 mil executados pelo governo ainda estivessem vivos.

Chegamos nos bombeiros! Vazio! Oba! Bem… vazio demais… Encerrou meio dia! Mais um hahahahahaha! Sério, a gente não tava nervoso ou incomodado. Talvez porque estávamos vivendo uma jornada que nos fazia sentir que o futuro aguarda mais à frente que, apesar de tantas perdas de mães, pais, irmãos e até filhos, um amigo perdeu um filho jovem para a covid-19, que já tivemos e ainda sofreremos… só espero que os sobreviventes não deixem jamais que se esqueça dos que perdemos.

Fazemos uma amizade à porta do bombeiro fechado, Ana Rosa. A cada momento chegava alguém e dávamos a notícia: fechou meio dia. Temos que catar outro lugar.

Ana Rosa se ofereceu para pegar meu WhatsApp e avisar se achasse um post e partiu para o da Siqueira Campos e nós para uma paróquia no Leme onde, de acordo com o mesmo site que dizia que os bombeiros estariam abertos, teria vacinação até 17h.

Eram 14h18 quando estávamos a minutos da paróquia e a Ana Rosa avisou: “Aqui tem! Tá vazio!”. “Opa! Não chegamos na paróquia ainda, estamos indo pra aí, valeu”

De fato lá estava tão vazio que a amiga da fila de rejeitados dos bombeiros já tinha ido. Eram apenas 14h28 quando nos vacinamos! Certamente mais cedo do que se tivéssemos ficado no Museu da República.

Segunda parte: a reação!

Em 2017 passamos uns dias em Ilha Grande, onde estava tendo surto de febre amarela e por isso tomamos a vacina, claro! Fiquei muito frustrado porque não senti nada e achei que não tinha “pegado”, mas pegou, óbvio.

A gente sabe que não precisa ter reação para ser eficaz, né? Meu cunhado e minha sogra, que moram conosco, tomaram a primeira dose e não sentiram nada.

Felizmente a gente teve reação sim! É mais iniciático, sabe? A gente percebe que algo aconteceu!

A maior parte de reação ficou para umas 24h depois da vacina. Um pouco de febre, uns calafrios, dor no corpo e dor de cabeça. Nada que um paracetamol não resolvesse. Eu nem tomei na verdade, só a minha esposa que teve uma reação um pouco mais forte.

Teve aquela moleza de febre também, é claro, tanto que dormi das 22h de domingo até 8h de segunda!

Mas foi isso! Acabou! Em 36h parece que nem tomamos a vacina a não ser quando apertamos o braço.

Você esperava uma novela de fortes emoções com a reação? Lamento te decepcionar, algumas pessoas tem reações mais fortes, mas o alívio de saber que o corpo tá iniciando sua jornada de produção de anticorpos é muito legal!

Parece que algumas pessoas só tem reação na segunda dose, mas, como eu disse, a gente teve a covid em dezembro, então de certa forma foi uma segunda dose, né?

E agora?

Bem, agora é continuar como antes, óbvio! Em casa, saindo só se formos obrigados ( e isso não tem acontecido mais de uma vez a cada 3 meses) e tomando os cuidados de sempre.

Já decidimos que, enquanto não tivermos 70, 80% ou o quanto seja necessário vacinados para conter a pandemia a gente não vai a bar, shopping etc.

Depois de quinze dias após a segunda dose a gente no máximo vai aproveitar que temos varanda aberta para receber uma amiga ou outra também vacinada para ninguém se arriscar à toa!

Há de se ter resiliência, mas teremos anos pela frente para nos vermos se nos cuidarmos!