Não chego a ser um cético, tenho meu misticismo, mas ele lembra mais Fernando Pessoa do que Madame Blavatsky. Quer dizer, se é para ter um misticismo que seja a simplicidade das estações e uma casa na colina.
Acontece que há dias que nos sentimos cercados por uma nuvem de estranhas sincronicidades. Hoje foi assim.
O mar batia contra a barca na travessia Niterói-Rio enquanto eu curtia o vento no rosto. Cheguei do outro lado caminhando a esmo como faço de vez em quando. Pretendia mergulhar entre as ruas estreitas do centro vazio da cidade.
Um homem me abordou. Pedia dinheiro. Dizia ter hipertensão, problema na próstata. Era um marinheiro da marinha mercante. Desempregado. Da marinha mercante…
Também fui vaposeiro como dizíamos. Oficial. Lá se vão quase quinze anos pois pulei logo fora para me dedicar a caminhos mais promissores. Na hora não achei que fosse estranho, era apenas uma coincidência. Mesmo assim me fez pensar um bocado sobre a realidade, sobre se submeter aos caminhos que se colocam diante de nós. Algo que definitivamente eu não faço.
Logo em seguida encontrei com uma velha conhecida. Nada demais, mesmo tendo algo a ver com a sensação deixada pelo marinheiro. Na hora ainda não havia feito nenhuma relação entre os fatos.
Fui parar no mergulhão. Os instintos diziam que o dia estava estranho, mas deixei para lá.
Já passando pela zona sul o bando de moleques de rua lá atrás começaram a se confrontar uns com os outros. Uma bagunça, medo, gente saltando a roleta para a frente do ônibus. Estavam certos. Eu sim estava errado em sequer me preocupar: tenho síndrome de invulnerabilidade…
Depois da bagunça o ônibus ficou vazio e continuei meu caminho. Fui ao mercado. Peguei uma Coca que não era para mim. A garrafa do lado despencou no chão. Não me esforcei para segurá-la, afinal que problema há em deixar uma garrafa cair no chão? Explodiu. Cheguei em casa molhado até a barriga. Impressionante. Não sabia que essas garrafas podiam explodir assim.
Sabe que fiz uma estranha associação entre todos esses fatos? A conclusão eu não sei explicar ainda, mas na verdade desconfio que temos uma mente esforçada demais em descobrir ligações e provavelmente tudo não passam de coincidências dispersas.