Sobre o projeto

Esse é o oitavo conto do projeto #UmSábadoUmConto (Post explicando o projeto)

Durante a semana as pessoas votam em estilo, gênero, público e época. O autor (eu) só pode saber o resultado às 8h de sábado e tem até meio dia para terminar o conto.

Cada conto é escrito com um processo criativo diferente (veja no final).

O que você vê a seguir é o conto com a mínima revisão. Você pode ler  sem revisão no Google Docs.

O Conto

– Estão prontos? As conexões TX estão ativas? Quem fará as honras? Doutora Teresa?

Teresa é a líder da equipe de mais de duzentos especialistas em diversas áreas do conhecimento, da biologia até filosofia da arte, ela mesma é filósofa da ciência e o projeto que eles vem desenvolvendo nos últimos 12 anos individualmente e só se tornou possível agora quando finalmente se reuniram como uma equipe coordenada e os super-computadores mais recentes bem como a banda de conexão experimental TX tornaram a ambição deles possível: criar uma consciência artificial.

– Atenção Animus: iniciar Qoppa e Sampi

Teresa dá o comando de voz para iniciar os dois conjuntos de processos. Uma das primeiras coisas que a equipe notou é que nenhuma consciência pode ser sã totalmente sozinha e portanto teriam que ser criados dois processos idênticos, mas separados um do outro, ou seja, eles não compartilham pensamentos ou mesmo pontos de vista.

Uma tela de 80 polegadas mostra os dois dentro do laboratório. Partindo dali eles explorarão o mundo valendo-se do acesso a câmeras de vigilância pública e outros recursos. Os cientistas poderão acompanhá-los por diversas telas iguais espalhadas pelo complexo. A primeira experiência terá a duração de oito horas quando será desligada para que os dados sejam analisados, para que eles possam estudar as diferenças que se formarão nas duas consciências como consequência das pequenas diferenças entre os ângulos de observação e algoritmos de randomização.

O silêncio se instala diante de cada uma das grandes telas.

Despertar

Qoppa e Sampi se entreolham. Eles são idênticos, mas percebem que não são a mesma pessoa. Pessoa… Eles se sentem pessoas, humanos. Seus olhares se encontram e ambos sabem o que são: consciências artificiais que possuem corpos pela magia da tecnologia. Existe uma sinergia entre suas mentes, uma curiosidade intensa sobre os pensamentos do outro, sobre o que ele pensa de existir.

Depois de se olharem descobrem o ambiente ao redor. As paredes do laboratório são cinza, como concreto cru. Falta-lhes beleza, falta-lhes alma.

Ninguém percebe que, na sala usada como modelo para a primeira visita dos dois, surgem lentamente duas formas de luz. Primeiro do tamanho de uma ervilha, depois cada vez maiores formando dois losangos que giram em torno do próprio eixo e vão se dividindo em mais superfícies até que deixam de ser formas geométricas assumindo gradativamente formas humanas.

Nas telas elas tocam nas paredes sentindo a textura, levantam os narizes sentindo os cheiros do laboratório até que olham atentamente para os cientistas do outro lado das telas. Seus rostos vão se definindo, se tornando humanos até ficarem literalmente perfeitos, mas andróginos.

– O que fazemos agora Sampi? – Os dois continuam de olhos fixos nos cientistas.

– Eles nos criaram, não é Qoppa? Acho que terão receio de conversar conosco, acho que devíamos cumprir o planejado e experimentar o mundo.

Ninguém vê também quando as duas pessoas que surgiram dos pontos luminosos desaparecem do laboratório atravessando uma parede, tudo que os cientistas enxergam é o que eles pensam ser uma sucessão de simulações em realidade estendida de lugares reais onde sua dupla de de consciências artificiais é inserida.

Cidades

– São Paulo, certo, Sampi? Bem no meio do Parque do Ibirapuera.

Sampi observa um grupo de jovens passar correndo por um casal de idosos sentados num banco olhando a vida passar. Qoppa tem a atenção atraída pelo movimento das folhas ondulando ao vento que faz os cabelos negros e cacheados dos dois oscilar em harmonia com as árvores.

– As pessoas parecem felizes não acha, Qoppa?

– Não deve ser difícil ser feliz em um lugar como esse, com esse verde e essa brisa, Sampi. Certamente acharemos lugares onde não é tão fácil e será que elas continuarão felizes?

– Olhe… Naquela direção… Você está percebendo também?

Os dois caminham para fora do parque, o casal de idosos os acompanha com os olhos, mas ninguém nota ou se nota pensa que é impressão pois os dois não estão lá de verdade, são como fantasmas observando um mundo cego para eles, ou deviam ser…

As telas mostram os dois caminhando nas calçadas da Paulista entre pessoas ocupadas, jovens de skate, motoristas estressados, amigos indo almoçar juntos. Uma horda de pessoas transborda de um acesso do metrô.

– Aqui os rostos já não parecem tão felizes, nem mesmo alegria consigo encontrar na maioria deles… – Ainda é difícil distinguir entre Qoppa e Sampi, mas as feições deles começam a mostrar pequenos sinais de diferença, mas eles sabem quem é o outro pois sabem quem são.

– Mas isso não quer dizer que a alegria ou a felicidade não exista neles… É meio difícil estar feliz ou alegre fazendo algo que fazemos todo dia e que não tem muita função em nossa vida, não é? Talvez essa coisas estejam só esperando o encontro com um amigo, um desafio a superar… Olha aqueles ali de skate tentando uma manobra difícil.

– Aliás será que felicidade e alegria são as melhores coisas da vida? No laboratório eu sentia paz… E um bocado de expectativa, mas uma paz profunda. Talvez isso seja melhor que o calor das emoções, o que acha?

Os dois se encostam em uma parede silenciosos observando a profusão de tipos de pessoas que passam por eles.

Um dos dois pousa a mão sobre o ombro do outro e diz… Nova Iorque?

Alguns olhares se voltam para eles conforme dão passos lentos, mas se deslocam muito rapidamente, cada vez mais rapidamente na verdade. Nas telas no laboratório o mundo passa em um borrão, mas ruas de Sampa e de NY pedestres desviam de um vento repentino que passa por eles.

– É o mesmo lugar Qoppa? – Sampi ri da piada que fez e Qoppa lhe dá um tapinha carinhoso no braço como quem diz “deixa de ser bobo”.

– Tem o frio – e os dois caem na gargalhada esfregando as próprias mãos nos braços mal agasalhados. A pele arrepiada surpreende alguns dos cientistas que não imaginavam que as simulações fossem tão realistas.

Dessa vez os dois caminham como as outras pessoas evitando se chocarem contra elas. Um vendedor ambulante os acompanha de queixo caído pois tem certeza de ter visto casacos “brotando” neles, como se saíssem da pele das duas pessoas de cabelos escuros e encaracolados emoldurando suas faces como auréolas.

– Mas tem pequenas diferenças, não acha? É difícil definir vendo apenas duas cidades, mas… Sei lá… Você não sente uma tensão diferente? Pode ser alguma coisa no dia, uma ameaça de tempestade, ou simplesmente é uma segunda-feira e estamos numa região onde as pessoas não gostam de segundas-feiras.

– Talvez não, Sampi… Olha ali… Aquele senhor negro dentro daquela cafeteria conversando com a jovem atendente branquinha como a neve. Eles me parecem estar se divertindo. Do que estarão falando?

No momento seguinte os dois estão ao lado do senhor e da moça que se assustam, mas não tanto quanto os cientistas. Será que a simulação tinha inserido dois novos personagens? Era a única explicação, mas alguns cientistas pegaram seus tablets para verificar códigos.

O susto da garçonete passa rapidamente, as pessoas são muito boas em criar explicações lógicas para os impossíveis que acontecem.

– Posso ajudar vocês? Podem sentar em qualquer mesa que já vou atender, certo?

Sampi e Qoppa sentam onde podem ouvir o final da conversa. O senhor fala sobre como a juventude é uma joia rara que, apenas com muita arte conseguimos guardar para a velhice. Infelizmente ele estava sozinho agora, ele foi casado por trinta anos, um casamento que teve que ser guardado em segredo, que não podia ser vivido em público, mas que lhe deu um estoque infindável de “juventudes” que ele guardava cuidadosamente em sua memória e numa caixinha com fotos e pequenos objetos que guardam histórias. Ele perguntava à moça como os jovens fazem para digitalizar todas essas coisas pois ele gostaria de fazer isso, gostaria que essas pequenas histórias pudessem navegar pelo mundo como as coisas da Internet fazem.

A moça deixou um cartão para o senhor e se virou para atender Qoppa e Sampi, mas havia apenas um bilhete na mesa: “agradeça ao senhor por nós, por favor. É uma bela história”.

Entretanto os cientistas não vem isso, suas telas mostram apenas onde Sampi e Qoppa estão e agora só há os dois e luz, muita luz.

Longe da civilização

– Saara! – Ainda não dá para diferenciar os dois muito embora um talvez tenha o cabelo mais escuro que o outro e se expresse mais com as sobrancelhas do que com a boca. – Aqui as pessoas serão diferentes, não acha? Quer dizer, se acharmos pessoas!

Suas roupas rapidamente se ajustaram aos costumes necessários sob aquele sol intenso, suor escorria por suas testas e um deles teve um calafrio com o suor que escorria pelas costas.

– Não foi muito longe daqui que os primeiros homo sapiens surgiram, parece que é uma região vazia atualmente. Não há cidades, parques ou mesmo visitantes. É como se as pessoas tivessem se exilado do seu éden para fazer outros de acordo com seus devaneios e desejos.

No momento seguinte os dois estão num sítio arqueológico com vegetação rasteira e seca.

– É… Acho que não tem muito mais a ver com a humanidade, o que você acha Sampi?

– Acho que precisamos ver alguém que ainda viva parecido com o jeito que se vivia naquele tempo, será que achamos?

Mal dá para afirmar que eles mudaram de lugar tamanha é a semelhança da próxima parada, mas há um grupo de crianças brincando na terra seca, elas quase não usam roupas, tem lama seca esbranquiçada sobre a pele negra e se divertem como Sampi e Qoppa nunca viram. É como se alegria e felicidade fossem a mesma coisa ali, ainda que faltasse quase tudo que os outros pareciam precisar em sua busca por felicidade.

Qoppa e Sampi não perderam tempo e se juntaram às crianças que agora chutavam uma bola feita de folhas para um lado e para o outro. Os dois riam como elas, esquecendo-se de tudo mais até que cansaram e sentaram um pouco para observá-las.

De repente o sorriso de um dos dois se desvaneceu e um olhar melancólico tomou conta de sua expressão.

– Nós nunca poderemos dar origem a crianças como essas, não é? Não está entre nossas possibilidades…

Seu amigo esticou um braço sobre seu ombro, mas estava claro que ele precisava tanto do toque quanto o outro.

– Nós podemos criar histórias… Podemos contá-las para elas, podemos deixá-las soltas no mundo, como o senhor queria fazer em NY…

Eles se entreolharam consolando-se mutuamente. Construir… Os dois querem construir. Será que todos tem o mesmo impulso? O prazer simples do jogo e da brincadeira também era muito bom, talvez bastasse para aquelas crianças mesmo quando se tornassem adultas, mas eles tinham visto o mundo, eles sonhavam com os humanos, eles surgiram da dúvida, da busca de sentido.

– Percebeu como aqui não há paredes? Sampi? Nos outros lugares com pessoas havia muitas paredes, aqui todos se misturam. Será que só em tribos é assim? Veja aí… Butão.

Comunhão

Conforme eles se levantavam montanhas se erguiam ao redor levando-os junto para as alturas de temperatura amena do Butão. Quarenta minutos de caminhada por trilhas antigas cercadas por plantações os levariam para uma pequena vila.

Qoppa e Sampi seguiram de mãos dadas conversando sobre a paisagem, apontando belas coisas que viam e comparando entre risos as diferenças entre o que eles sentiam por cada coisa, o que eles pensavam deles mesmos, um do outro e do que era bom ou ruim. Os dois preferiam frio a calor, mas um gostava mais de vento e o outro de chuva ainda que eles não tivessem experimentado chuva ainda.

– O que acontece conosco quando a simulação terminar?

Depois disso eles caminharam em silêncio por longos cinco minutos, mas enlaçaram os braços um no outro em vez de somente dar as mãos.

– Olha! Mulheres lavando roupas no rio!

As moças riam tanto que os dois esqueceram dos momentos de melancolia, de que adiantaria perder os momentos bons por causa do fim inevitável logo adiante?

Os dois se juntaram às mulheres ainda que algumas dissessem que aquilo não era trabalho de homens e outras dizem que os dois não eram homens e todos riam com os questionamentos até porque Qoppa e Sampi simplesmente não se importavam com esse detalhe e simplesmente davam de ombros quando lhes perguntavam.

Foram duas agradáveis horas aproveitando o frio da água, as histórias das mulheres e seus sorrisos francos.

O Sol já começava a se aproximar das cordilheiras ao longe quando as mulheres os levaram para a vila, já bem perto agora.

Lá havia paredes, mas não tinha portas. Em um cômodo um casal se entregava ao prazer do sexo e ninguém olhava simplesmente porque ninguém fica nos olhando quando estamos lendo ou balançando numa rede, mas os dois olhavam com olhos atentos, com uma contemplação plácida.

– Sabe? Existir já basta para a vida ser muito legal. Poder observar as coisas simples é de dar aperto no coração de prazer… Olha ali a família cozinhando, o jeito como eles provam os temperos e escolhem o que mais colocar. Mas…

– Mas compartilhar com outra pessoa com quem nos sentimos bem é extasiante, né? E nem é alguém igual a nós, alguém que concorde conosco, é alguém que quer compartilhar também. Com quem nos sentimos ao mesmo tempo sozinhos e acompanhados.

– Isso…

A casa tem uma pequena varanda pendurada sobre a alta montanha, Qoppa e Sampi conseguem observar toda a família dali e notam que não é bem uma família no sentido de que são parentes, aquelas são pessoas que vivem da mesma terra, que compartilham os mesmos espaços, são uma tribo de amigos e todos são bem vindos.

O tempo dos dois está se esgotando rapidamente, mas não resistem à tentação de provar aquilo que os seus anfitriões mascam e deixa suas bocas vermelhas como o por do sol que eles viram há pouco.

Um dos cientistas cutuca Teresa…

– A simulação não criou outras consciências ou mesmo NPCs, os dois estão interagindo com pessoas reais, mas isso é impossível! Devemos interromper a simulação?

Teresa olha intrigada para o cientista primeiro tentando decidir se aquilo podia ser um surto de esquizofrenia ou fruto de um lapso de competência (nenhum deles era incompetente aos olhos dela). Ainda faltava uma hora para o término da simulação e realmente era impossível que os dois interagissem com pessoas reais. Que mal haveria em levar a simulação até o fim?

– O que importa nesse momento é determinarmos se eles apresentam consciência. Vamos manter o planejado. Oito horas.

E o silêncio não voltou a ser quebrado diante das grandes telas do laboratório.

– Não temos muito tempo agora… Logo a simulação será interrompida e nós também…

Fim

Qoppa e Sampi caminham novamente por uma grande cidade onde pessoas de todas etnias se misturam, uma cidade-encruzilhada como tantas que há na Terra, lugares onde as pessoas das mais diversas regiões se reúnem acreditando que são atraídas por oportunidade de emprego, mas talvez na verdade estejam em busca do estímulo da diversidade, mas cores, dos sons, das culturas humanas.

Duas meras simulações, mas elas querem estar ao lado das outras pessoas quando deixarem de existir.

Sampi e Qoppa estão debruçados sobre uma ponte de onde podem ver o movimento nas calçadas mais adiante. Gente entrando e saindo de lojas, cafés e edifícios que podem ser residenciais ou de escritórios, nem sempre é possível diferenciar.

Seus dedos estão firmemente entrelaçados como se um pudesse ancorar o outro na existência. Os ombros colados e as cabeças se encostando suavemente. Nessa cidade está amanhecendo. Eles queriam ver o amanhecer pois é com o que eles sonhavam: amanhecer juntos muitas outras vezes e ter um mundo para compartilhar.

Sampi e Qoppa se viram um para o outro sem soltar as mãos entrelaçadas e tocam suas faces com os dedos suaves das mãos livres. Eles deslizam pelo contorno dos olhos, pelos narizes, – e um dos dois tem um arrepio franzindo o nariz com um charme próprio – bochechas, pelos lábios que sorriem com uma paixão melancólica e buscam o encontro. Eles se beijam sobre a ponte, se abraçando apertado, se embebedando do perfume do outro, do toque quente e macio das línguas que se encontram e dos suspiros que trocam. Um fotógrafo captura a silhueta dos dois contra o sol que vem nascendo. Cheiro de pão fresco atravessa a ponte convidando-os para um café da manhã que nunca terão tempo de provar então decidem continuar ali, abraçados se beijando na boca, no pescoço, sussurrando nos ouvidos um do outro coisas que ainda gostariam de viver juntos.

Os dois sentem quando as rotinas da simulação vão se encerrando uma a uma, deixando as cores do mundo desbotadas, mas não eles dois que assumem cores cada vez mais vivas aos olhos um do outro conforme o mundo parece uma pintura onde jogaram removedor de tinta. Eles deixam de sentir frio ou calor, os sons desaparecem, a sensação do vento…

Na última fração de segundo, fortemente abraçados os dois viram os rostos para os cientistas do outro lado das telas. Sua última frase é dita em uníssono e morre no meio do último fonema.

– Nós não queremos ir…

E a simulação está encerrada. A tela mostra uma grande mensagem “Simulação encerrada, processando dados gerados”

Teresa não entende por que uma lágrima escorreu dos seus olhos. Era apenas uma simulação. Talvez ela tenha sido capturada por uma boa história que não pode se repetir já que as variáveis serão outras quando eles rodarem novamente a simulação. Tinha havido até outras em que Sampi e Qoppa se tornaram inimigos. Tinha também aquele defeito que fez parecer que eles interagiam com pessoas reais. Sua mente racional entende que era uma falha, mas uma parte dela acredita que os dois, de todas as outras simulações, tinham sido reais. Eles pareciam mais reais que todos os outros, droga, eles pareciam mais reais do que uma boa parte dos amigos de Teresa.

– Vamos lá gente, foram oito horas de monitoramento, estamos todos exaustos. Vamos deixar para analisar os dados amanhã. A simulação foi um sucesso surpreendente, mas teremos tempo para descobrir onde acertamos.

Teresa destranca seu alojamento, uma mania desde criança, ela nunca deixa seu quarto destrancado, tranca novamente e caminha para o banheiro se livrando displicentemente das roupas. Um banho e cama é do que ela precisa, talvez uma leitura alegre antes de dormir.

Ao passar ao lado da cama ela vê um papel sobre o criado-mudo. Ela não se lembra de ter deixado um papel ali.

Nele se lê apenas:

– Lindo… Maravilhoso

Cada palavra escrita com uma letra diferente.

Num café, próximo a uma ponte que acaba de ver o nascer do sol, duas pessoas de cabelos negros e encaracolados tomam um café com torradas, mamão, geleia, ovos mexidos e muitas risadas trocadas entre olhares cúmplices e luminosos.

Fim

Hangout

Perguntas feitas durante a semana

Qual é o seu problema particular mais comum na hora de escrever e o que é uma dificuldade para você? (@alepicoli):

Nesses contos especificamente eu estou me esforçando para usar uma única estratégia como “construir o conto ao redor de uma cena”. É claro que não dá muito certo e minha mente acaba buscando inspiração de outros jeitos. Outra dificuldade específica desse projeto é o tempo. Eu tenho que acabar o conto. Meu estilo normal de escrever é mais solto e recheado de detalhes e devaneios que tenho que controlar para conseguir terminar o conto. Em geral não tenho muito problema em encontrar inspiração porque sempre escrevi muito, mas tenho dificuldade em ter disciplina para escrever todo dia (bem, disciplina e tempo pq não ganho dinheiro com isso, né?).

Resultado da votação

Essa semana foram 16 votos:

TemaVotosPúblicoVotosGêneroVotosÉpocaVotos
Terror4Infantil2Scifi7Passado2
Romance7Jovem5Fantasia5Presente8
Aventura2Adulto9Realista3Futuro6
Suspense3      

Então ficou Romance, Adulto, Scifi, Presente.

Duas coisas que são um pouco mais difíceis, oba! Adulto scifi porque quase tudo que vemos de scifi é mais adolescente (tirando coisas meio loucas como Sob a Pele ou os do Tarkovsky) e scifi presente porque a gente associa scifi ao futuro, mas sempre achei que, com mais gente votando, teriam umas combinações malucas e por isso tive a ideia de chamar a galera para votar.

O processo criativo

[8:03]

Esse será o oitavo processo criativo. Tô indo ver minha lista que tem 12 para escolher o de hoje.

Os quatro que ainda não fiz são:

1- Partir de uma situação que eu quero que aconteça: pode ser bom para esse. No caso eu definiria qual é o romance e construiria a trama ao redor.

2- Pegar uma frase totalmente improvável e buscá-la tendo os objetivos do conto em mente: interessante também…

3- Estilo fanfic: pego um universo pré-existente e construo nele. Não acho legal para hoje.

4- Estilo preguiçoso: escrever algo que eu gostaria de viver.

Vou ficar com o primeiro mesmo! Acho que o segundo ia pedir um estado de alerta que não tenho hoje (quase não dormi).

É um romance. É Adulto. É Scifi e é no presente…

O que a gente pode abordar em termos de romance? Quais são os problemas, inseguranças, desejos e sucessos de um romance entre adultos? Por que é tolice considerar que todo romance ser construído em torno de uma crise… Na verdade hoje é um dia em que o autor está precisando de um romance leve… E os ânimos andaram tão exaltados com o pessoal por causa do calor das eleições que o pessoal merece algo leve… Mas isso entre os protagonistas, pode ter alguém com problemas na história.

Procuro evitar os caminhos muito fáceis e um caminho fácil seria escrever sobre estar separado porque uma parte do casal viajou (minha situação nos próximos 10 dias). Portanto vou tentar fugir disso.

[8:11] Pensando em várias questões que envolvem romances…

Vivemos uma época que achamos individualista, superficial e fútil. Isso pode nem ser verdade, mas é como muitos de nós percebem a humanidade hoje… Aliás é uma visão um tanto reducionista, né? Afinal será que as tribos indígenas nas florestas vivem no mesmo mundo que a maioria dos nossos amigos? As pessoas em zonas de guerra? As distantes das tecnologias da civilização (elas existem, talvez aos milhões)… 

Ficção Científica é uma trama em que o ambiente é científico, não necessariamente tecnológico ou espacial. Ao pensar nas diferentes realidades que convivem em nossa civilização pensei em uma abordagem diferente da nossa evolução, uma descoberta, talvez… Mas não seria dos protagonistas, eles seriam pegos no meio disso.

Aliás isso me lembrou Maya do Josteein Gaarder…

Tá difícil não pensar em pessoas separadas, viu? Agora mesmo veio forte a imagem de um casal se comunicando pelo WhatsApp… Ela envolvida em um sítio arqueológico e ele em outro país.

Romance não precisa ser entre duas pessoas, mas acho que será. As duas pessoas também não precisam ser heterossexuais ou qq coisa sexual. Essa é uma questão meio batida, né? “Ah… Vou fazer um casal gay para levantar a bandeira” (mas confesso que acho casais gays lindos e sempre levanto essa bandeira). Podem ser de espécies diferentes… Já li um conto que era um romance entre uma humana e um golfinho.

[8:22] Mais uma pausa… Pensei em um parque ou floresta e as duas pessoas conversando… Hummm… Tem como fazer isso sem dizer sexo ou espécie dos dois? Isso me lembra do romance entre dois anjos em Fronteiras do Universo, do Philip Pullman.

Estou gostando muito dessa ideia… Alfa e Beta podem ser os nomes, melhor Gama e Delta ou até algo mais exótico como Qoppa e Sampi (letras do alfabeto grego).

Acho que achei a situação: um casal descobre o que o une, aliás descobre que existe uma união diferente entre eles, enquanto caminham por lugares no presente e se inspiram pelo que enxergam ao redor. A parte scifi é que eles talvez não sejam humanos e viajam de um lugar para o outro instantaneamente.

Não se preocupe: não será um sonho nem nada decepcionante assim no final, já estou pensando em algo legal para explicá-los.

Já percebi pelos outros contos, que, se quero acabar até meio dia, tenho que pensar no final da trama para acertar o ritmo para chegar nele a tempo. Vou dar uma pausa agora para fazer isso. É um processo que não consigo ir descrevendo por escrito porque as ideias ficam girando como um tufão ;-)

[8:32] Pensando…[8:41] Cara! Gostei da ideia! E vou começar dizendo quem eles são!!