É uma característica do mercado tentar comparar uma obra com a outra, talvez na esperança de “alavancar” vendas. Bem… Também faz parte da natureza do nosso raciocínio analisar o que é novo recorrendo a semelhanças com o que é conhecido.

The Bone Season é o primeiro de uma série que deve ter 7 livros (o segundo será lançado em janeiro de 2015) e já está sendo comparada a Harry Potter e Jogos Vorazes só para citar dois casos.

Vou discordar dessas comparações.

Tá bom, é uma distopia com temática política como Jogos Vorazes, mas é muito mais realista, muito mais adulta e, me parece, bem mais complexa.

A comparação com Harry Potter me cheira mais a tentativa de alavancar vendas pois não é bem um universo de fantasia, não trata da passagem da infância para a juventude e nem mesmo tem o mesmo tipo de interação entre os protagonistas. Ah! Tão pouco o estilo literário lembra o da Rowling pelo que me lembro.

The Bone Season é uma obra suficientemente original para merecer não ser comparada a outras.

Adverência

Não tem advertência ;-)

Pode ler sem medo pois evito estragar o prazer da leitura revelando detalhes da trama, ou seja, não faço spoiler.

Sinopse

The Bone Season acontece na Inglaterra de 2059, mas não é uma obra de ficção científica e mal notamos que ele acontece no futuro. Certamente há tecnologia por lá, mas a autora não se dá ao trabalho de falar nela, a não ser muito discretamente uma ou duas vezes.

O mundo está dividido entre as pessoas normais e “unnaturals” que são clarividentes capazes de manipular forças além do alcance dos outros.

Os clarividentes são perseguidos como aberrações, desnaturais e, para sobreviver, se organizam em sindicatos para proteção mútua.

Paige Mahoney é membro de um desses grupos composto por clarividentes com capacidades especiais mesmo entre os outros clarividentes.

Ao longo do primeiro livro nós descobrimos a história dessa perseguição aos desnaturais (palavrinha difícil de traduzir, né? Eles não são antinaturais) e somos apresentados a um universo alternativo ao nosso que tem suas origens em 1859, ou seja, 200 anos antes da época em que o livro come?a.

Paige é uma jovem mulher de 19 anos extremamente segura de si e resiliente física e mentalmente, mas assim mesmo se vê em situações que a deixam sob controle de outros, nem sempre boas pessoas.

É uma história pesada de certa forma. O desgaste emocional dos personagens vai bem além daquele de outras distopias voltadas para um público leitor um pouco mais jovem.

O que achei e por quê?

É uma série programada para ter 7 livros então há sempre um risco de errar ao dar uma opinião depois de ler apenas o primeiro, certo?

A princípio eu gostei tanto que já considero uma das melhores distopias dos últimos anos.

A narrativa em primeira pessoa, pelos olhos da protagonista Paige Mahoney, é algo que já me agrada bastante e imprime um teor mais humano à história ao dar menos espaço para a ação.

Em primeiro lugar é bem mais adulto. Aliás temos uma escala, não é mesmo? Jogos Vorazes é menos adulto que Divergente (ainda que eu não goste muito de Divergente) e agora temos uma personagem um pouco mais velha (Paige tem 19 anos e já trabalha para se manter. É adulta) em uma trama de fantasia, mas sem tons pastel como os que sobram em Jogos Vorazes. É uma realidade dura e nua, mas isso não é o que mais me agradou.

Paige é uma mulher do século XXI. Independente, forte e… Bem, só lendo. A menina moça é interessante.

Em geral a mulher é enquadrada em um modelo feminino que envolve coisas “femininas”. Não é esse o caso. Talvez você até encontre algum teor romântico na história por exemplo, mas ele não passa nem perto de ser importante.

Outro ponto de destaque é a criatividade da autora na construção do seu mundo alternativo.

Talvez esse ponto também possa ser comparado a Jogos Vorazes, mas acho que ela vai além ao criar uma complexa estrutura de classes de clarividentes e outros… fatores.

O que não gostei

Como é um livro introdutório de uma série longa e repleta de detalhes, muitas coisas recebem pouca atenção.

Veja bem, até prefiro que ela tenha feito assim pois nos permite mergulhar logo no universo dos pensamentos da protagonista, mas alguns outros personagens acabam tendo pouco espaço e me peguei várias vezes confundindo um com o outro.

Tive alguma dificuldade com o inglês dela, algo nas expressões idiomáticas talvez. Acabou sendo uma leitura dupla: li a história e aprendi mais sobre o inglês britânico, mas essa não é uma falha do livro. Pretendo reler quando sair a tradução para aproveitar melhor a história.

Em alguns momentos a protagonista é teimosa demais… No entanto, conforme vamos pensando na história de vida dela começa a fazer sentido, então essa é uma crítica com ressalvas, só porque me ocorreu enquanto eu lia.

Book Trailer