Foi por acaso que vi Contos Russos: Tomo II disponível de graça no Kindle Unlimited e decidi dar uma olhada na sinopse que dizia que eram dois contos representando o Realismo e o Naturalismo russos e pensei: Bem… Não custa nada, né?
Grata e feliz surpresa!
Ah! Pode ler sem receio de spoilers!
O primeiro conto, “O primeiro amor”, de Ivan Turguênev, foi publicado em 1860 pela primeira vez e me pegou de jeito, sabe? Ele transita por aquele período que estamos entre a infância e o encontro com o mundo adulto. O conto tem um certo hedonismo curioso que nos faz pensar se aquela era uma forma de fato hedonista de viver ou se Turguênev está fazendo uma crítica aos costumes da sua época.
Também é uma leitura que te dará vontade de pesquisar e saber mais sobre a nobreza russa em 1860 e o glamour perdido por ela diante do crescimento da burguesia. É uma pesquisa que, aliás, não fiz ainda e, se você é historiadora, cara pessoa que lê este post, e quiser contribuir nos comentários ficarei grato!
Uma coisa que sempre me surpreende ao ler contos ou livros antigos é que, apesar de haver grandes diferenças culturais, claro, a consciência das injustiças sociais e de igualdade e diversidade de gêneros (essa última não está nesses contos) sempre estiveram presentes. Podemos pensar que isso significa que não estamos avançando, mas não é assim. Ao ler obras antigas o que percebo é que essas são causas universais que nunca puderam ser eliminadas e que temos avançado ainda que soframos retrocessos periódicos.
Nossas emoções ao final do conto podem ser um pouco nostálgicas e nos levar a dar mais valor ao tempo de vida que temos.
Já o segundo conto, “Lady Macbeth do distrito de Mtsensk”, de Nikolai Leskov, publicado em 1865, é mais seco e frio em seu naturalismo, mas nem por isso menos envolvente. O título já sugere uma trama trágica, mas sugiro se deixar surpreender pelos detalhes e desenvolvimento da história. O que mais me marcou nesse conto é a empatia que desenvolvi com a protagonista a ponto de me colocar no lugar dela e torcer por seu triunfo.
Fico pensando em Shakespeare (que obviamente está entre as inspirações da obra) e em como com ele a vida interior das pessoas começou a ser mais vasta em vez de se resumir ao seu papel objetivo na sociedade, ao prazer e à morte. Nesse conto existe um vazio de vida interior que, no entanto, não nos faz ver as pessoas como vazias pois elas estão repletas de outras paixões.
O prefácio e os apêndices trazem informações importantes sobre os movimentos literários, sobre a época e os autores fazendo valer a pena a leitura dos contos nessa edição em vez de procurá-los separadamente. Só recomendo ignorar as notas de rodapé deixando para lê-las no final pois achei que exageraram um pouco dando esclarecimentos para coisas que não são necessárias para a compreensão do texto.
A tradução de Oleg Almeida também me agradou muito! A leitura flui bem sem que se percam as características do estilo literário daquele século.
Photo by Annie Spratt on Unsplash (me lembra o 1º conto)