Como começar a falar sobre Febre Tropical, primeiro livro de Juliana Delgado Lopera?
Antes de mais nada: pode seguir sem medo de spoilers porque meu objetivo sempre é dar subsídios para você escolher um livro que vá te agradar e, no máximo, compartilhar umas reflexões que podem ajudar a tirar mais emoções e reflexões da leitura.
Vou começar informando que Juliana Delgado Lopera (elx, delx conforme especificado no livro) participa ativamente e se inclui na cultura queer e que observei que elu não dá um destaque a isso, talvez por não querer limitar-se e às obras que cria a esse estereótipo.
Se você ler Febre Tropical sem saber que Lopera é queer provavelmente não pensará nisso ainda que ali estejam colocadas também questões LGBTQI+ e esse é o começo do que torna esse livro tão ímpar!
A história de uma mãe que imigra da Colômbia para os EUA, contada por sua filha adolescente, Francisca, consegue a proeza de viajar por três gerações sem deixar de lado a História; abordar o amadurecimento, a busca de identidade, as duras concessões que podemos fazer para nos integrar à sociedade, os bastidores das periferias da terra dos sonhos, os conflitos internos e externos em uma galeria de personagens onde ninguém é mau, mas ninguém consegue também ser realmente bom.
Poucas vezes vi uma obra tratar com tanta delicadeza a riqueza do comportamento humano e nos mostrar que somos uma diversidade de pensamentos, crenças, medos, dúvidas, desejos e que não podemos ser definidos por estereótipos e talvez esse seja o momento em que podemos desconfiar que a mente que concebeu a história está muito mais livre dos estereótipos que achamos que a média de nós está. Ainda assim não vejo motivo para estigmatizar e declarar que essa liberdade é privilégio queer. Tenho certeza que qualquer uma de nós pode se libertar dos estereótipos e esse livro é uma boa chave para abrir um portal para essa nova realidade.
Mas, espere! Não clique no link lá no começo para comprar ainda! Ele ainda tem uma particularidade que pode te encantar ou te incomodar…
Febre Tropical é povoado de expressões em espanhol o que acho brilhante!
O original em inglês deve ser bem difícil de ler para quem não é bilíngue ainda que tenha um glossário no final.
Para quem fala português é até interessante ler sem recorrer ao glossário experimentando a sensação de estar com alguém que não domina nossa língua e acaba recorrendo a palavras da sua língua mãe…
Ou talvez a pessoa crie o dialeto para preservar e reconstruir sua identidade dentro de outra cultura que ameaça devorá-la ou absorvê-la. Questionamento, aliás, que também está lá em Febre Tropical.
Por último mais uma qualidade que pode incomodar: Enquanto estamos vivas nossas histórias continuam. Do mesmo jeito Febre Tropical tem um final aberto, mas não aquele aberto que cria frustração e sim aquele que diz que a jornada de Francisca continua.
Acho o final aberto essencial porque Febre Tropical não é apenas a história de uma família colombiana buscando uma nova vida em um país de grandes promessas, mas a história do encontro das culturas humanas, da transformação das fronteiras e da transformação de todas as culturas em busca de uma supercultura onde todas coexistam e esse processo está muito longe do final, na verdade talvez esteja apenas no começo!
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Ah! Importantíssimo! Para uma opinião literariamente qualificada assiste essa moça aqui, a Vá ler um Livro!