Antes de mais nada: Comentários sem spoilers. Pode ler sem medo.
Demora alguns parágrafos para entendermos o mundo em que estamos entrando, mas bem rápido a protagonista Helena é capaz de nos cativar com a profundidade e qualidade de sentimentos que ela emana.
A sinopse já revela que Helena é uma robô em uma sociedade onde ainda existe a masculinidade tóxica, mas a autora vai nos mergulhando nas peculiaridades dessa sociedade e sua história passada nos levando a pensar sobre os processos sociais e identitários que vivemos hoje (às vezes nos esquecemos que toda obra, distópica ou não, fala do nosso mundo, afinal somos nós que estamos lendo e trazendo a história para a nossa realidade) abordando alguns tópicos e por alguns prismas que não vejo com muita frequência e rendem bom material para refletir sobre os usos que estamos dando e daremos em seguida para IAs GPT e realidades digitais.
Sinopse da editora
(des) construção
Este romance futurista conta a trajetória de Helena, uma robô que escancara como a nossa sociedade patriarcal e machista seguiria procurando formas de explorar o corpo feminino independente de leis e de qualquer progresso social.
Distopia e utopia sempre convivem, já lhe ocorreu isso?
Ainda esses dias estava comentando que, sem dúvida, vivemos uma distopia e nem preciso dar exemplos, tenho certeza. No entanto também vivemos uma utopia nas mesmas áreas que mergulham na distopia: temos liberdade de imprensa (veja indicações no Meme de Carbono), existem redes sociais reais e livres, nossa tecnologia avança em todas as áreas apesar do negacionismo distópico que nos assombra.
Em (Des)contrução é possível pensar nessa dicotomia, mas, mais importante, a história nos lembra que alguns desafios humanos são estruturais ou mesmo falhas que nos assombram se nos distraímos delas.
Se por um lado vemos tanques de guerra abandonados sendo absorvidos pela Terra, por outro percebemos que fomos mais bem sucedidos em conter a violência do que em alimentar a paz e, agora mesmo, vemos na Palestina pessoas voltando à sua Terra em Gaza arrasada pela violência e governos pipocando pelo mundo impulsionados pela mesma perversidade muito bem retratada em (Des)construção.
Esse é um post curto porque quero que a obra fale por si. Vale a leitura! Deixo apenas mais uma reflexão: existem muitas perversidades estruturais e absolutamente todas as pessoas tem algum caminho de desconstrução para se tornarem melhores, para serem uma gota pelo respeito, pela diversidade, pela gentileza, empatia e alteridade no oceano da humanidade e não pelo contrário.
Imagem
Foto de Joshua Kettle na Unsplash
Referências
- Hotsite na editora: (Des)construção
- Instagram da autora Marina Odo
- Coletivo Saifers de Sci-Fi