Antes de mais nada: não deixe de assistir a resenha do canal Vá ler um livro (no fim do post).
Sou de uma geração que cresceu durante a ditadura e de uma classe privilegiada que considerava que a cultura estrangeira era superior à vulgar cultura brasileira…
Isso pode te parecer incoerente, mas assim são alguns sistemas totalitaristas-nacionalistas: a própria cultura é desvalorizada como forma de controle. Mas não vou falar sobre isso, senão colocaria esse post no meu blog sobre cibercultura. Vou falar de cultura, vou falar de ter terra onde firmar os pés.
Tudo que sei sobre Torto Arado (compre na Amazon) está na resenha no final, mas a Tati sabe fazer resenhas, você vai perceber ao assistir o vídeo dela.
É sobre parte da história do nosso povo negro, mas é contato com vastidão, tem lá as questões religiosas que nos dividem, a falta de lugar pois nada nos pertencia, as relações de trabalho e grande parte do mosaico cultural que forma a base de 80% ou mais da nossa cultura!
Mas não é uma obra documental, ela nos traz a história de pessoas tão reais quanto as pessoas podem ser na ficção, ou seja… Algumas vezes muito mais reais que as pessoas que vemos ao redor, às vezes mais reais do que nós mesmas nos vemos porque o bom artista tem esse poder: nos representar em dimensões que frequentemente escolhemos não ver ou… somos levadas a não ver pelo apagamento da nossa cultura.
É possível que você que lê esse post agora seja uma pessoa branca, privilegiada e que se identifica muito mais com a cultura europeia do que com a brasileira, assim como eu mesmo…
Recomendo que pense muito sobre isso, que repense isso, aliás, que leia livros como esse pois, com 53 anos, percebo que perdi umas duas décadas ignorando partes importantes do que me tornam o que sou. Estamos irremediavelmente conectadas à nossa cultura e às outras pessoas que constroem essa cultura.
O Brasil negro e explorado está na arquitetura, nos traçados das ruas, nas feiras, nos sonhos e pesadelos que vivemos.
Lugar de fala também é lugar de auto-conhecimento e não teremos um chão firme onde pisar enquanto não nos fizermos pertencer ao chão que nos produziu.