Ontem aproveitei um post do Eric Novello para defender o filme As Crônicas de Nárnia. O post dele é tão bom que farei três post meus inspirados em um só dele.
Nárnia foi apenas um comentário dentro de uma discussão mais ampla falando sobre listas de 10 mais e sobre como aplicamos nosso tempo.
Não vou falar de listas agora, mas fiquei muito interessado no que ele falou sobre a forma como dividimos nossas atenções.
Basta dar uma navegada pelas listas de 10 mais dos blogueiros para constatar que o Eric está certo. A maioria das pessoas sequer viu 10 boas coisas de cada tipo, seja cinema, tv, literatura, teatro, artes ou dança. E a maioria das listas serve mais como um termômetro da eficiência das agências de propaganda.
Exemplo perfeito é a Maria Rita, também citada pelo Eric. Ela já cantava fazia um tempo, mas logo no primeiro disco virou diva imortal e fenômeno clássico na música popular brasileira. Apenas um ano depois e agora ela passou a receber duras críticas dos mesmos que a endeusaram ontem.
A sociedade do consumo em que vivemos transmuta a arte em produto e todas as discuções sobre estética e beleza são abandonadas para decretar simplesmente que “arte é entretenimento”. Não é!
Entretenimento pode até ser arte, mas Senhor dos Anéis, Nárnia, Matrix, Harry Potter, Código Da Vinci, nada disso é arte. No máximo se aproximam dela como no caso das versões literárias dos dois primeiros.
No final das contas vamos aceitando nos tornar uma civilização de prazeres pueris e sem profundidade. Ao nos afastarmos da arte que perturba, desequilibra, deslumbra e transforma passamos a viver superficialmente sem jamais experimentar o que realmente somos. Passamos ao largo do que há de mais incrível na vida.
Arte de verdade? Tem Antônio Torres, Charlie Kaufman, Lars Von Trier, Björk (já que falei no Lars), Gus Van Sant e Dave Mackean só para citar alguns artistas modernos. A modéstia e o esforço para não parecer um paparicador me obrigam a excluir eu mesmo e o Eric. :-)
A propósito, Eric, se você estiver ouvindo, sei que você jamais seria agressivo conosco viu? Em momento algum me senti hostilizado e até concordo que o filme de Nárnia seja “desgostável”, mas numa era em que a Bruninha surfistinha é campeã de vendas podemos dizer que dos males o menor…
No próximo post tento escrever meus 10 mais, só que vou logo dizendo que nunca consegui fazer isso.
Atualizando em dez/2019: Não concordo mais que arte para entreter não é arte, mas continuo achando que precisamos muito da arte que nos desafia, nos perturba, que nos desequilibra e transforma. Mas, acima de tudo, hoje acho que Bruninha Surfistinha era mais importante naquele momento do que Crônicas de Narnia…