Fiquei impressionado…
É mais do que uma trama de crime, mistério e paixões.
O Canto da Sereia tem fortes bases humanistas que vão contra crenças bem arraigadas em nossa cultura.
Antes de continuar devo avisar que haverá spoilers, ou seja, terei que revelar alguns pontos da trama.
Resumindo a história; Sereia é uma artista de sucesso meteórico que, em três anos, obteve fama e sucesso suficientes para fazer shows ao redor do mundo e se tornar um expoente da música baiana, mas em pleno auge, descobre que tem poucos meses de vida em virtude de um câncer e decide que não quer aceitar as dores do processo de tentativa de tratamento e morte por câncer além de, me parece bem claro, querer viver eternamente como a jovem, energética, alegre e sedutora Sereia. Para atingir seu objetivo recorre a quem a amou para transformá-la em mito através da morte em pleno sucesso no meio do carnaval.
Está construída a jornada do herói, mas essa heroína decide morrer, uma opção que não temos moral, religiosa ou legalmente no Brasil e em muitos outros países, apesar de haver quem considere isso errado (pesquise Terry Pratchett).
Também temos o papel do judas redimido pois faz o que faz por amor, ele não mata a heroína, ele a torna eterna… É uma imagem polêmica que muitos podem condenar como aprovação do stalker, mas não é pois a própria Sereia é claramente a mandante e a vontade mais poderosa entre os dois. Ela respeita apenas outros Deuses, os Orixás aos quais ela de certa forma se juntará já que sua trajetória foi prevista por Yemanjá em sonho.
Uma vez tudo terminado o registro que poderia revelar todos os detalhes dessa jornada desmascarando o mito da alegria e vida eternas roubadas pelo disparo de um fanático é queimado justamente por quem buscou mais empenhadamente pela verdade.
A destruição do diário da Sereia me incomoda, deve incomodar todos nós e é isso mesmo que a torna necessária além de ser coerente com a dedicação e respeito do segurança e investigador Augustão: A vida é efêmera… Nós a deixaremos em breve. Que história queremos deixar para trás? A dos nossos diários ou a das memórias dos que nos conheceram? A verdade deve prevalecer sempre?
Ficarei apenas com esses comentários, não vou falar da fotografia, das atuações, da trilha sonora, da direção e outras características que outros podem criticar melhor. Só me incomodou um pouco o som que imagino ser fruto de gravações em locações em vez de cenários. Com sorte alguém que entende explicará nos comentários, mas tinha horas que era difícil entender o que estava sendo dito, o que de forma alguma tirou o brilho da série.
Uma observação que devia estar em outro blog meu, mas deixarei aqui também: A Globo é um ponto focal em nossa cultura com um grande poder de influência, ou seja, se achamos que sabemos escolher programas que tornariam nossa sociedade melhor, devíamos dedicar mais tempo e esforço comentando e dando audiência para o que aprovamos na emissora e menos criticando o que achamos ruim.
Ah! Definitivamente esses formatos mais curtos funcionam muito bem com gente como eu que não tem paciência de acompanhar meses de episódios de novelas. Espero que a Globo faça mais produções como essa.
Ah 2! O site da minisérie: O Canto da Sereia