Sem spoilers.

Uma grande propriedade rural, a mãe, o filho sem movimento nas pernas e um séquito de amigos e empregados envoltos em um ambiente opressivo, tenso e, apesar do ritmo lento, capaz de absorver a nossa atenção. O Ninho no IMDB.

O lance é que tô impactado. Tem essa pegada no roteiro e na direção que trouxeram à tona um questionamento que venho repensando desde que eu mesmo tinha lá meus 11 a 13 anos: Eu não queria ser poupado da realidade, mas eram os tempos da ditadura e eu nem imaginava qual era a realidade a que seria exposto se meus pais tentassem mostrá-la para mim sendo que eles mesmos provavelmente não a conheciam muito embora meu pai fosse militar.

A ignorância e não o conhecimento é que leva ao medo, ao pânico, ao caos. No entanto lembro fortemente de dois traumas da minha vida, ambos por volta dessa idade, dos 11 aos 13 anos: quando me choquei com o paradoxo do Universo infinito e com o fato de que a matéria não passa de uma expressão da energia. Foi tenso. E tive que enfrentar sozinho pois meus pais não tinham as ferramentas necessárias para me ajudar.

E aí está o problema. A realidade virá inevitavelmente. Muitas vezes sem que a gente possa controlar. A propósito me lembrei da mãe do lorde Greystoke na obra original de Edgar Rice e do seu descolamento da realidade.

Podemos pensar que já é impossível alienar as crianças hoje com Internet e tudo o mais, no entanto não é essa a questão e sim o nosso desejo de poupá-las, como e quando vamos conversar com elas sobre as ameaças lá fora que, convenhamos, talvez nunca cruzem seus caminhos.

Mais de 40 anos pensando nisso e continuo achando que temos que tentar preparar nossos jovens para lidar com o mundo, com todo ele, e saber notar quando vierem em busca de respostas e não de idealizações irreais que subestimem sua capacidade intelectual e emocional.

Mas que não é nada fácil… não é…

E tem gente que reclama quando a arte é mais do que entretenimento vazio… Como se existisse entretenimento vazio. Isso tá mais para um auto-engano, uma forma de, depois de nos alienarem enquanto crescíamos, continuarmos nos alienando por conta própria.

Imagem: cena do filme. Justin Korovkin e Ginevra Francesconi.