Talvez você nunca tenha ouvido falar na trilogia literária inglesa Fronteiras do Universo (His Dark Materials no original) e não saiba nada sobre a adaptação do primeiro volume que chegará em dois dias aos cinemas brasileiros: A Bússola de Ouro.
Primeira informação importante: Pode ler este post pois não vou entregar nada que atrapalhe o seu prazer de assistir o filme!
Se for este o caso, ao ver o cartaz é capaz de você pensar que se trata de uma aventura infantil. Não é.
Por outro lado, é possível que você tenha ouvido falar na condenação do Vaticano e vários grupos religiosos ao filme já que a mídia adora um escândalo.
Eu li os três livros três vezes ao contrário da maioria dos comentaristas e resolvi escrever uma sinopse do primeiro filme para acabar com um mal entendido:
A Bússola de Ouro não tem nada a ver com matar Deus, com ateísmo ou anticristianismo.
O que vem a ser A Bússola de Ouro?
Essa é a primeira parte de um épico de fantasia em três partes e aqui acaba a semelhança com Senhor dos Anéis.
A aventura inteira ocorre em um mundo alternativo muito parecido com o nosso, mas dominado por um governo fundamentalista religioso. É como se a Igreja Católica tivesse se tornado o que o fundamentalismo islâmico parece ter se tornado.
Outra diferença entre o nosso mundo e o do filme é que todas as pessoas tem um tipo de alterego animal o que pode parecer engraçado a princípio, mas acaba se mostrando uma metáfora interessante para o diálogo entre ego, id etc.
No centro da história está Lyra Belacqua, uma menina órfã criada pelos professores da universidade de Oxford daquele mundo e o mistério do desaparecimento de várias crianças sem que ninguém saiba o que está ocorrendo.
Lyra se verá envolvida nesse mistério e será levada a uma longa jornada que resultará no seu amadurecimento precoce enquanto ela aprende sobre um mundo onde certos grupos estão dispostos a tudo para impor suas verdades ou para ser mais preciso, sua autoridade.
A metáfora serve para qualquer movimento político ou religioso fundamentalista radical e por isso muitas pessoas – como eu – consideram a obra tão importante… Sem falar no que virá nos próximos volumes.
Segunda informação importante: A Bússola Dourada é sobre a liberdade para seguir o seu próprio discernimento e não o que lhe é imposto pelo uso da força
Se você acha que o fundamentalismo radical é algo bom para o mundo e não deve ser questionado então vai odiar o filme. Não vá!
O primeiro volume da trilogia não é muito mais do que uma aventura se comparado aos outros, mesmo assim é interessante ver que Lyra se envolve na aventura não por bagunça, mas por fidelidade a um amigo e “não poder ficar de braços cruzados enquanto coisas importantes acontecem” e nisso a história talvez lembre o Frodo de Senhor dos Anéis.
Terceira informação importante: A Bússola de Ouro é sobre não se omitir, é sobre fazer algo pelo bem comum simplesmente porque o problema se apresentou diante de você.
Se você acha que a sociedade contemporânea não está precisando se engajar mais nos problemas que atingem a todos então esse filme pode não lhe dizer muito.
A questão é que a trilogia de Philip Pullman, já no primeiro volume, serve de metáfora para muitas questões contemporâneas centrais na transição de uma sociedade alienada e consumista para outra em que o conhecimento e a consciência são tão importantes quanto foram nos séculos passados a aparência e o poder.
Por motivos como esses é que considero A Bússola de Ouro um forte candidato a filme mais adequado para ver no natal!
Roney, acompanhei como pude esses seus coment�rios. Tenho uma curiosidade a respeito, percebendo todo o seu interesse. Deve lembrar-se d'”A Hist�ria sem Fim”, do alem�o M. Ende, que virou filme tamb�m e prestou-se �quela massaroca toda de hermen�uticas, escafandrismos metaf�ron�micos (perdoe essa “lacanagenzinha”)etc., etc.
Pois bem, escrevi um pequeno ensaio a respeito que consiste numa tentativa de cotejar as aventuras de Bastian(protagonista)com o percurso de um paciente em an�lise de escola francesa(Lacan, Mannoni, Leclaire, etc.), em estilo livre-assoaciativo(quase um mosaico. Penso que funcionou, seja pela metodologia de clivagem que adotei, ou em fun��o das cr�ticas; inclusive uma do Rubem Alves(meu professor de Filosofia da Linguagem, ent�o). Acho que fica mais confort�vel encontrar tal ensaio no http://www.mesadoeditor.com.br , mas est� no http://www.literaujobueno.blogspot.com . Minha sugest�o � muito singela – oferecer-lhe subs�dios adicionais de leitura. At� porque ando atolado de leituras para a defesa do doutorado em Junho, agora!Para trabalhar os microcontos, passei por J. Joyce (as epifanias!)e devo me pegar com o pr�prio “Brevitas” de Arist�teles na seq�encia. Mas achei t�o simp�tico seu coment�rio ao “Infantic�dio”, um microconto meu, que resolvi retribuir sua gentileza com algo que lhe pudesse parecer pertinente.
Um abra�o e 2008 dessa muita produ��o inquieta,
Marco
Comentando: Cara! Que m�ximo! Adoro quando os visitantes s�o muito mais cultos do que eu!!! Passarei sempre l� no seu espa�o!