Tudo finda, seja bom, seja ruim, seja até mesmo o alicerce da sua existência naquele momento, tudo tem um fim, inclusive o amor.

Quando era adolescente não amava pessoas, amava personagens que conhecia na TV e em livros. Eram meus amigos, namorados, mestres e também vilões, afinal há vilões que amamos; pelo menos na ficção.

Mas, espere, esse texto não é sobre o tipo de amor que você talvez esteja pensando.

Aliás, em que tipo de amor você pensa quando pensa em amor? Naquele de pessoas que se casam e dividem tanto os planos de vida quanto os desejos do corpo, do tesão?

Mas a história aqui é outra: a dos amores que vão muito além de dividir o orgasmo (nada contra o orgasmo, é ótimo dividir isso também).

Pois voltando a mim adolescente para contextualizar: Até os 16 anos acreditava que viveria só, um tipo de nômade na vida dos outros sem jamais criar laços profundos e, certamente, nenhuma dependência.

Aí conheci aquela pessoa que mudou tudo; que me mostrou que a dor da traição é uma tolice perto do êxtase do amor que constrói confiança e que ninguém conhece a amizade ou amor verdadeiros sem se entregar.

Se entregar… Aí vem a primeira inspiração desse texto, esse vídeo aí que foi feito para a pessoa que me ensinou a amar (e tem esse efeito foda que você vê no vídeo também na vida de outras pessoas).

Ah! Essa mocinha aí em cima… Uma criança praticamente. Ela tem 31 aninhos.

Pois é, tenho 50 anos, tive muitos amigos e… Você viu o vídeo? Veja, vai te fazer bem e dar muito mais sentido aos parágrafos que vem a seguir.

Eu acha que sabia tudo sobre o amor da amizade e, depois que a gente acha que sabe tudo sobre uma coisa, paramos de pensar nela.

E o que eu sabia sobre amizade?

Que nós somos como rios que fluem para o mar, que nossas águas se encontram e se misturam por um tempo, mas sem jamais perder a identidade, sem deixar de mudar e a mudança é implacável: Um dia mudamos para outros rumos, buscamos outros leitos por onde correr e nos afastamos.

Essa descrença pode ser uma forma de sofrer menos com os amigos que não estão mais ao nosso lado, afinal tem uns que mudam de país, outros que se afastam por um motivo ou por outro e precisamos de uma forma de lidar com a perda.

Tudo tem um fim, inclusive a amizade… Era isso que eu sabia sobre o amor.

Só que o meu casamento também acabou.

É! Casei com aquela pessoa lá que me ensinou a me expor aos 16 anos. Nosso casamento acabou umas três vezes até que percebemos que as diferenças de rumo não precisam impor o fim da nossa união, muito menos do nosso amor que é parceria, entrega, confiança, uma sinceridade que dói, mas dá certeza de que o outro dirá o que está pensando, mas sem jamais desrespeitar o nosso próprio caminho. Mesmo quando esse caminho parece absurdo para o outro. Não darei exemplos porque não quero desviar do assunto.

Então cá estava eu com 50 anos, sabendo tudo sobre amor e que ele sempre acaba, ou melhor, ele persiste, mas acabamos nos afastando assim mesmo.

Olha a tolice! O casamento que tinha acabado várias vezes já se tornou para sempre há mais de 10 anos (são 32 até agora), mas via o casamento como mágico, como se fôssemos almas gêmeas marcadas cosmicamente para caminhar juntas pela eternidade.

Eu disse que nesse casamento tem uma pessoa ateia? Pois tem e essa pessoa sou eu; e obviamente acho uma tolice isso de alma gêmea.

O que existe é entrega que vem da confiança, da coragem de mudar e ser mudado por outras pessoas, de falar sem julgar (ou condenar), de ser transparente e…

Transparência, né? Tem que ter muita coragem para ser transparente, já pensou nisso?

As três pessoas nesse post tem suas formas de ser transparentes, uma delas escolhe muito bem com quem se abrir, mas uma vez que se sinta segura é como um espelho que recebe e reflete sem distorções.

Pois até poucos dias eu me conformava que um dia a amizade com a moça no vídeo terminaria. Até já falei sobre isso com ela várias vezes e ela olhava para frente refletindo lá de baixo da sua inexperiência.

Você está rindo? Se não está devia!

A experiência algumas vezes (aliás quase sempre) é uma desvantagem. Ela nos oferece convicção pela repetição das vivências, no entanto estamos sempre mudando e o mundo… Nossa!!! O mundo provavelmente nunca mudou tanto em tão pouco tempo.

Pois então caiu a ficha. Mas não foi depois do vídeo e sim depois de ler esse texto sobre a amizade-amor entre um cara de 40 anos e uma mulher de 80 (em inglês) que duas amigas me mandaram por mensagem (a do vídeo e a Maffalda).

Será que esse texto aqui está ficando nostálgico pelas amizades que “deixei para trás”? Se está me desculpe pois a intenção é exatamente o oposto! A alegria de perceber que não precisamos viver as amizades resignados que um dia elas acabarão ou pelo menos nos afastaremos delas.

E, enquanto escrevo vou me lembrando de um moooooonte de amizades que estão meio distantes agora, afinal vivemos a era do nomadismo e várias pessoas estão espalhadas pelo mundo.

Também existe o problema das 24h do dia.

É impossível ter muitos grandes amores pois passamos horas juntos conversando com grandes amores (e agora os poliamoristas devem estar rindo de mim, calma, já vou aprender isso também com vocês).

Aha! Mas há um segredo!

Segredo? Acho que está mais para outra obviedade, mas essa pelo menos eu pratico desde pouco depois dos 16 anos: seja uma pessoa plena quando estiver com outra pessoa.

Pelo breve espaço de tempo que vocês conversarem se mantenha aberta a amar e ser amada pela outra pessoa.

E, se você não notou que esse post é uma declaração de amor para a moça do vídeo, vou deixar claro agora: pela primeira vez na minha vida eu acredito nesse tipo de amizade que é uma fraternidade de alma que pode durar para sempre e foi você, Vivi Maurey, que me ensinou isso! Aí de baixo dos seus meros 31 anos de experiência (e você, pessoa amiga com ciúmes da Vivi, não tenha, pois aprendi a acreditar mais no meu amor por você também).