As moças perfiladas na pequena ilha escondida dentro de uma galeria e ao redor da qual se movimentam seres de Ipanema.

Sento em uma das quadro mesas e me torno quase invisível como elas, ali perfiladas, a postura de guerreiras de uma civilização perdida, nobres e firmes como o tempo que passa por nós.

É tudo imaginado, claro, é a fantasia do homem branco muito privilegiado que as observa e cria histórias com as próprias expectativas e estereótipos.

Quase sempre prefiro ficar com meus devaneios a perguntar para as pessoas quem elas são, como são suas vidas.

Em parte, uma pequena parte, não quero invadir sua privacidade, mas em grande parte prefiro meus sonhos… E assim é semeada a pós verdade faltando apenas cairmos no delírio arrogante de que nossa fantasia é tão real quando a realidade, que temos o direito de escolher nossa realidade.

Elas conversam, mas não presto atenção no que dizem, estou ocupado julgando minha arrogância e tenho um pouco de vergonha.

Ah… Falam de escala de trabalho. Elas naturalmente não se restringem às personagens dessa ilha de cafés e aperitivos; elas têm filhos, sobrinhos, amigos, famílias, namoros e paqueras, talvez estudem para buscar um emprego melhor, talvez adorem o tipo de emprego que tem hoje… Parecem gostar de estar aqui… Não por gostar de me servir, mas por gostarem da vida e do ofício.

Ah! Mas isso são apenas devaneios! A verdade deve ser muito outra, bem mais rica e interessante pois que imaginação é capaz de construir um mundo mais complexo, rico e surpreendente que o mundo real?