“Tem certeza mô?”
Joanna está sentada, jogada e afundada numa poltrona que a abraça como a vó que protege a netinha. Os cabelos loiros, curtos e encaracolados emolduram o rosto que aparenta não mais do que vinte e poucos anos apesar dela já beirar os trinta. Talvez seja o jeito de olhar, os pés descalços suavemente pousados no chão e voltados para dentro e o jeito de vestir que a façam parecer tão jovem. Ou talvez seja o brilho do seu olhar azul-celeste. Esquecida em uma das mãos ela tem uma tangerina aberta que espalha um aroma delicioso pela sala.
Diante dela Gustavo anda de um lado para o outro claramente em conflito. Ele teve uma proposta de trabalho fora do país, mas ele viu muitos outros passarem por isso e, apesar dos ganhos mais generosos e do ambiente mais “civilizado” terem o olhar distante de quem sente falta. Falta de casa, dos ares do próprio país ou de alguma identidade sutil, uma ligação que faz a vida distante da sua terra um tipo de sonho sem despertar.
“Não, não tenho…”
Será apenas um ano, mas Joanna não poderá ir e eles sabem que outros anos podem se emendar a esse primeiro. O relacionamento deles de quase oito anos sobreviveria a uma prova como essa? Mas além de enriquecer o currículo do Gustavo será uma oportunidade única de subir um patamar nos seus rendimentos.
A decisão na verdade está tomada e ambos sabem disso, são as emoções que fazem com que titubeiem.
Em dois meses ele estará embarcando em um avião para trabalhar no Japão e, da mesma forma como tantos antes viajaram para o novo mundo em busca de oportunidades ele retornará ao velho mundo.