Uma rua.

Estreita.

Escura, mas não deve ser mais de cinco da tarde…

Cheira mal. A lixo de restaurante apodrecido nas sarjetas.

O chão é de paralepípedos.

Droga! Que raio de lugar é este?

Ar… Sinto falta de ar. Sentar. Respirar. Meus braços doem. A cabeça lateja.

Sento no meio fio, nem importa o cheiro. A rua está vazia. Não, tem uma mulher logo ali.

Não faço ideia de como cheguei aqui. Qual é a última coisa que lembro? Merda! Não lembro de nada. Dia da semana, ano, lugar onde estou. É claro que estive apagado, mas por quanto tempo? Minutos? Dias? Anos.

Todas as juntas doem, eu era velho assim ontem?

Preciso levantar, andar. Descobrir onde estou.

Caminho pela rua até uma avenida maior que está totalmente vazia. Não pode ser de tarde, devem ser umas 4 horas da manhã então. Por isso sinto tanto frio?

─ Perdido?

Viro lentamente sem me assustar com a voz que surgiu repentinamente. Oh! É a mulher que estava na ruela logo atrás. Os vincos no rosto e os cabelos desgrenhados sugerem que é uma mendiga ou mulher do campo recém chegada à cidade grande.

─ É… – respondo desinteressado, duvido que ela possa me servir de qualquer ajuda.

─ Vem, você precisa de uma sopa. Sentar e despertar direito.

Ela se vira e segue por um corredor estreito que só agora noto, é um espaço entre dois edifícios.

Pode ser que eu esteja tonto, mas ao redor dela o ar está distorcido como se estivesse quente, muito quente. Quando consigo focar a vista fica claro. Em cada lado da viela tem um tipo de guarda. Um deles é como gelo transparente e parece um demônio, o outro é como rubi e parece um anjo.

Ignorando-os e estranhamente calmo, sigo atrás da mulher entre as paredes estreitas por onde ela desapareceu.