Advertência: Esse post é uma crônica que mergulha em emoções ligadas à pandemia da covid-19. Se isso pode ser um gatilho para você recomendo não ler e visitar a página anti-ansiedade sobre a covid-19 para ter apenas informações sobre como se proteger e boas notícias.

Enquanto lares e famílias ao redor submergem um a um nas perdas e sofrimentos de uma pandemia estrangulada os finais de semana chegam como embarcações fantasma espalhando música alta e recebendo hordas que se enfileiram para mergulhar no oceano do Sars-CoV-2 ou que já se banharam nele e não se importam de espalhar seus espíritos macabros enquanto se deslocam entre famílias muitas vezes ingenuamente abraçando mensageiros da dor.

É um contraste estranho… Pousadas, boates e lugares não identificáveis percebidos apenas pela música e vozes altas dos comensais que se servem do prato do vírus que se farta dos nossos corpos alegremente oferecidos para ele. “Vamos todos ficar doentes uma hora!” dizem…

Vejo senhores de mais de 60 anos se comportando com a inconsequência do adolescente que foge de casa para aprender com os próprios erros, o que, se não é o ideal, é natural. Mas não em adultos que já deviam ter conquistado alguma maturidade.

Na timeline passa a notícia: mais uma vez a semana foi a pior desde o início da pandemia.

Também passa na timeline que o Estado continua no projeto de reabertura: escolas, academias, praias… Mas nem precisa abrir pois a mureta na orla onde zumbis, digo, pessoas se enfileiram bebendo e conversando ombro a ombro não chegou a se fechar.

Olho para os 2 milhões que oficialmente estão contaminados e vejo a purpurina e a tatuagem neon ao redor de olhos assustados com a perspectiva da doença, de ter levado maldição a quem ama. Ouço a contagem de mais de 85 mortos e escuto o eco afogado das músicas cantadas alegremente duas semanas antes, que agora não conseguem atravessar o tubo plástico que se crava na garganta procurando por um pulmão afogado na própria inconsequência.

Ainda na timeline vejo a toda hora alguém se sentido idiota por não estar nas praias, nas boates, nos bailes compartilhando o cano fumegante da roleta russa que circula entre as multidões delirantes. Não deixa de ser uma idiotice.

E nos trending topics surge mais uma embarcação distante, do Egito. Ressuscitaram a Cleópatra?

Não. É um grande baile atraindo novas hordas para a dança da morte… Será que Stephen King tinha isso em mente?

Resta aos navegantes mais cautelosos manter distância dos litorais tomados pelo perigo. Esse aqui já está no oceano profundo desde 12 de maio e sem planos de buscar sequer uma pequena ilha onde sentir o solo com os pés descalços…

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