Brigitte e seus primos passaram o dia correndo febrilmente para cima e para baixo. Uns juntavam abóboras que cavucavam entretidamente abrindo olhos, bocas e fazendo cabelos engraçados para amarrar no pequeno talo. Outros se dedicavam aos bolos ou colhiam ervas.
Os mais velhos orquestravam o restante da festa que atravessaria a noite para festejar aquele ponto do outono quando apenas uma tênue bruma separa os vivos dos mortos e todas as coisas encontram seu fim e recomeço.
Nos velhos tempos a festa era chamada de Samhain, agora os mais novos diziam que era o tal Halloween.
À noite, de pés descalços as crianças baterão de porta em porta pedindo doces e afastando os medos enquanto, atrás das janelas iluminadas por velas, os adultos festejarão o fim dos ciclos da vida e a preparação para seu recomeço.
Os últimos tempos foram difíceis para a família de Brigitte que perdeu um irmão na guerra e passou necessidades, mas para ela nada foi mais doloroso do que sua primeira decepção no amor. Um rapaz do condado vizinho que foi embora quando o pai foi transferido para outra cidade.
Nos dias que antecederam o Samhain ela mergulhou em profunda melancolia por sofrer mais o amor perdido do que o irmão que jamais veria novamente a luz do dia.
Quando chegou a noite ela já não teve vontade de correr pelas ruas com as outras crianças, ela foi chamada para a mesa ao redor dos adultos que honravam os que haviam partido, deixando para trás as coisas que já não serviam e invocando um ano de fartura, sabedoria e boa sorte.
Tarde da noite Brigitte sorria atrás da vela na janela do seu quarto certa de que o irmão acenava para ela de longe e que outros amores viriam no futuro.