O uso de mães e suas crianças ainda em fase de amamentação para promover marcas como a P&G é moralmente admissível?

Geralmente olho as coisas do ponto de vista geral, por exemplo, acho crítico ter alguém num programa de TV dando orientações de como tratar bebês que vão contra as recomendações da OMS e o que as melhores pesquisas indicam.

Quanto aos participantes normalmente eu diria que é problema deles, mas as crianças não podem escolher. Creio que, mesmo que as mães participassem sem os filhos e filhas, ainda os estariam prejudicando por se envolver em uma disputa estressante num período importante do desenvolvimento da criança.

Concordo que algo deve ser feito pelo bem dessas crianças, mas não é só isso…

Há também um aspecto geral nisso quando crianças de um ano são expostas assim em rede nacional alimentando uma visão espetacular delas (no sentido de Guy Debord).

A TV testa seus programas em busca de audiência, mas também fica atenta aos argumentos de minorias (pelo menos a TV esperta e acho que a Globo é) racionais e bem coordenadas.

Se você também acha que esse quadro é um erro demonstre isso de forma racional, fale com os amigos, se costuma ver o programa vá ler um livro durante o quadro e comente isso no Twitter, Facebook etc.

Espero que, mostrando os argumentos com razão e bom senso, a maioria dos espectadores (e a TV) percebam que esse quadro é um erro.

Seguem alguns links de mães que admiro (ou me foram bem recomendadas) falando sobre o assunto:

“É a ‘coisificação’ das crianças, diante dos olhos coniventes da sociedade, e com o aval de profissionais. É vergonhoso. É inaceitável. Crianças não são objetos, não são propriedade de seus pais. Nossos filhos não nos pertencem, eles não são brinquedos, não são bonecos que podemos arrastar por aí ao nosso bel prazer. Nossos filhos são seres humanos, são pequenos indivíduos dotados de sentimento, de emoção, de necessidades subjetivas. Cabe a nós cuidá-los, e não usá-los.” fonte: Tudo tão errado que parece certo (Renata Penna – sou fã)

Dr. Sears, uma autoridade em amamentação, diz o seguinte: “Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado. Siga os sinais do bebê. A vida é uma série de desmames, do útero, do seio, de casa para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o seu desenvolvimento emocional”. fonte: A maternidade no chiqueirinho

“Boicotar o hipoglós é transformar vínculo, confiança, segurança e proteção em Risco, Desrespeito, Indignação e Ganância. Não é fácil transformar esses valores. Por isso, convocamos você com seu blog, Facebook e Twitter: vamos metamorfosear as frases do hipoglós? Eu não sou boa em fazer isso, mas sei que existe mãe expert nesta seara.” fonte: Como boicotar o hipoglós da PG? (por causa do patrocínio ao programa)

Em tempo…

Será que o uso dessas crianças para promover produtos é muito diferente das pessoas que carregam crianças no colo nos sinais fechados para comover os motoristas enquanto pedem esmola?

Imagem: The Inspiration Room