Lyra Belacqua não aceita a autoridade imposta a ela e a desafia caminhando clandestinamente sobre as cadeiras dos decanos de Oxford.
Fui inspirado a escrever o texto a seguir depois de ler uma matéria no Globo sobre as afirmações de um pastor de que os direitos das mulheres atingirem negativamente a família.
Sempre falo na importância do método científico pois, sem ele, nossa mente avalia o mundo a partir da própria experiência.
Por exemplo, se eu sou bissexual e, envergonhado disso pela pressão da cultura onde vivo, decido reprimir a minha natureza sexual tentando me convencer que sou heterossexual, corro o risco de achar que a sexualidade é essencialmente definida pelo meio e por minha vontade.
A metodologia científica me ajudaria a ver o mundo como é e não como eu o percebo ou gostaria que ele fosse e logo eu perceberia que sou um caso específico e que sequer deixei de ser bissexual de eu apenas estou reprimindo minha natureza.
A literatura demonstrando que as nuances da natureza sexual indo do heterossexual ao homossexual são fortemente genéticas é vasta a ponto de não haver muito espaço para dúvidas a respeito.
O discurso do pastor demonstra que ele não desenvolveu seu ponto de vista a partir da razão ou de fatos, mas sim de relatos de pessoas em conflito com sua natureza sexual o que o leva a conclusões não só erradas, mas até desumanas como a de que as mulheres que decidem estudar e trabalhar podem se tornar lésbicas.
Há, curiosamente, nessa linha de pensamento uma visão materialista da natureza humana que não sofreria nenhuma influência seja da seleção natural, seja de um suposto Deus criador. O pastor é um ateu? Ele parece crer que, se a sociedade não for firmemente controlada pela Autoridade (e isso me lembra da Lyra de Pulman) ela se desfará.
Espero que a luz lançada sobre essas linhas de pensamento nos ajudem a mostrar que várias religiões saíram dos seus trilhos ou foram sequestradas (e agora lembro dos momentos finais do Livro de Eli) deixando de servir ao nosso desenvolvimento espiritual para serem usadas como instrumento de poder.