Há uma semana um amigo me marcou em um artigo no Facebook (é, já falei que cansei das mídias sociais e fui para as redes) sobre um neurocientista que estava dizendo que não temos livre arbítrio.

Não vou citar nem o artigo, nem o cientista, pq não é o caso. Aliás vou falar um pouco no final sobre coisas que “um cientista” disse… Não! É melhor falar logo senão vão pensar que sou mais uma dessas pessoas lunáticas que “não acredita” na ciência. Como se tivesse algo para acreditar em uma ferramenta que serve para detectar e validar fatos.

Ciência, em grande parte, depende de consenso. Sempre terá um cientista aqui ou ali que, por qualquer motivo, vai dizer uma tolice. É bom também ver a área, né? Livre arbítrio é algo que um neurologista tem ferramentas para analisar? Não seria mais a área de um filósofo? Ou de um jurista? Em geral é área de teólogos.

E aí chego logo onde eu queria ir: teologia.

Caras, apesar de ter crescido em escolas religiosas foi só com 16 anos, em uma igreja presbiteriana, que me vi pensando seriamente em livre arbítrio… Aliás, me vi achando sem sentido, isso sim!

Nunca consegui entender a importância que davam para isso. Para mim era como discutir como e quando o Espírito Santo entra nas pessoas.

É verdade que o livre arbítrio está na base de muito sistema jurídico, mas tenho certeza que é só porque religiões, principalmente as ocidentais, estão na base da cultura eurocêntrica, que força seu domínio à civilização.

Aqui talvez valha a pena resumir o livre arbítrio em uma frase: somos responsáveis pelo que fazemos, nós decidimos o que vamos fazer. Tá. Foram duas frases, desculpem!

Só que, na boa? que se dane se a gente tem ou não livre arbítrio, se tudo está determinado ou não. Para um grupo de pessoas e, mais ainda, uma civilização funcionar, certos princípios precisam ser estabelecidos e responsabilizar as pessoas pelos seus atos está na raiz da ordenação mínima da sociedade.

É possível fazer a transição para outro arranjo social onde, digamos, as pessoas respeitem a coletividade por sabedoria e empatia? Aham. Claro que é, assim como é possível fazer a transição para um sistema sem capital, sem disputa de poder. Você sabe como fazer isso? Esse sistema seria melhor que o atual? Eu não faço ideia. De nenhuma das duas coisas.

O tal cientista solitário dizia que nosso comportamento é predeterminado pelos nossos hormônios, proteínas transmissoras etc.

Ah! Que lindo, né? Só que isso mal é uma hipótese! Para começar a falar nisso seriamente seria necessário fazer os cálculos, colocar uma pessoa em uma sequência de eventos e mostrar que ela fez todas as decisões conforme calculado.

Duvido que o tal cientista sequer conheça todos os fatores que definem nosso comportamento e menos ainda tem como mapear o estado desses fatores todos em um dado momento.

Tem esse determinismo na física também: Diga-me onde estão todas as coisas no Universo e te direi tudo que acontecerá daqui para diante. Boa sorte em mapear TODAS as coisas no Universo! E na época não se conhecia nem a energia escura, nem a matéria escura.

No final das contas acho que é mais um esforço desesperado para aparecer, para entrar na onda do “marketing científico”.

O Derek Muller fez um vídeo bem útil sobre isso recentemente!

O Problema com a comunicação cientifica

Foto que ilustra o post: Brett Jordan na Unsplash