Dia 12 de maio de 2020 é um dia que não esquecerei.
Em 11 de março estabelecemos isolamento social aqui em casa onde moram, além de mim e da minha esposa, o irmão dela (autista) e minha sogra de 80 anos completados uns meses depois.
Por dois meses apenas eu saía para o mercado e algumas outras coisas que pareciam inevitáveis como farmácia e banco, mas em 12 de maio estabelecemos lockdown.
Não se trata de desespero, mas de observar e reconhecer a realidade e os riscos: não valia a pena me expor e expor a família a uma doença cujos efeitos e sequelas provavelmente só vamos entender nos próximos anos e temos os recursos econômicos e psicológicos para isso.
Desde então saí uma vez para levar nossa cachorra no médico, duas para votar a dois quarteirões de casa e duas para ir na portaria de um amigo na mesma rua e, nas duas últimas semanas, fui três vezes a um cartório. Não teve jeito.
Fui tranquilo. Máscara N95 /PFF2 bem ajustada, faceshield, passava álcool na mão toda vez que tocava em algo e não toquei no meu rosto. Ao chegar em casa tirei as roupas e tomei banho.
Hoje estou com febre de 38º e os sintomas característicos da covid-19.
Pelo jeito, de alguma forma, ela bateu à porta. Quem saberá onde errei? Só posso afirmar com boa dose de certeza que é covid-19, afinal moro no Rio de Janeiro em um prédio com muitos vizinhos que já não usam máscara há tempos, muito provavelmente porque já tiveram e não sabem que ainda podem ser vetores ou não se importam.
Não tenho raiva de ninguém, nem de mim, aliás! Vírus são microscópicos e extremamente aptos a se transmitir e multiplicar. Era algo que poderia acontecer mesmo não saindo do prédio muito embora provavelmente tenha pego nas últimas saídas na rua.
Também não estou com medo ou nervoso. Minha exposição deve ter sido bem baixa o que colabora para ter boas possibilidades de ter uma forma branda da doença do coronavírus de 2019.
Estou na cama fazendo o que se pode fazer: verificando periodicamente a oxigenação (tudo bem) e a temperatura para tomar antitérmico se chegar a 38º. Não. É óbvio que não tomarei nenhum dos remédios que os desesperados agarram em seus delírios. Não sou nem desesperado, nem ignorante.
Antigamente blogs eram espaços de interação, as pessoas acompanhavam e comentavam, mas isso foi bem abafado pelas redes sociais, talvez publique esse texto nelas também.
Convenhamos que os blogs não permitem uma conversação equilibrada, né? Em geral as pessoas falam com o blogueiro e não entre si.
Por outro lado, enquanto eu existir esse espaço registrará minha história. Um dia Twitter, Facebook e outras redes podem deixar de existir. Esse blog já viu a morte de muitas delas… Do MySpace ao Orkut.
Por ora sigo no quarto, evitando o contato com os demais na casa por uma semana ou mais, menos da minha esposa que tem sintomas também e não quer me deixar sozinho, mas felizmente está bem melhor que eu!
Qual é o sentido desse post? Bem… Qual é o sentido da vida senão uma sequência de eventos a que damos significado por nosso engenho e empatia? O sentido é esse: vamos vivendo da melhor forma possível, sabendo apreciar tanto os momentos desagradáveis quanto os agradáveis aprendendo sobre nossas fraquezas nos primeiros (ansiedade, medo, raiva) e nossas qualidades nos segundos… A bem da verdade a todo momento, com desafios e prazeres podemos aprender sobre nossas qualidades e fraquezas!
Estou atualizando o diário numa sequência no tweet abaixo:
Photo by Dima Pechurin on Unsplash
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