O que aconteceu com Lenilson, Cristininha, Saliba, José Francisco e tantos outros professores importantes da minha infância vivida em pleno sistema de ensino da ditadura?
Há dois anos escrevi no FB o texto mais abaixo, que compartilhei junto com o vídeo no final e hoje me ocorreu pela primeira vez que talvez meus melhores professores tenham sido afastados do ensino por serem bons demais.
Como estudava em colégio de elite, e o ensino para a elite é diferente, talvez não, talvez eles tenham conseguido atravessar a ditadura sem serem capturados ou perseguidos, mas francamente não sei.
Antes uma observação: ainda que o ensino que recebi fosse muito melhor que o público ainda estava longe de ser crítico e lembrei dele justamente porque vi coisas como as desse tweet:
Escolhi como imagem para ilustrar o post uma sala de aula parecida com as que conheci nos anos 70. Ela parece vazia, morta sem estudantes e professores, mas dependendo como as preenchemos, toda sala de aula, até a mais simples, pode ser um oásis!
Segue meu texto de outubro de 2017
Hoje é dia do professor
17 de outubro de 2017
Parei aqui por uns segundos para pensar nos professores que definiram para mim o que é um professor.
Sim! Sim! Eu sei que o minimamente justo seria parar por um ano… De Plutão, que não é mais planeta, mas também gira em torno do Sol como todos nós e nossos professores.
Lembrei então do José Francisco, cego desde a infância por causa de uma catapora e deixado em um orfanato por causa disso, que me ensinou a paixão pelas palavras quando eu fiquei em recuperação e meus pais tiveram que buscar um professor particular. Era um homem jovem, simples, tinha “cara de pobre” como já determinavam os estereótipos da década de 70 do século passado, afinal ele tinha as feições de nordestino e de negro. Era um gênio com as palavras.
Depois teve Antônio Saliba, que dava aula de literatura no colégio Tamandaré, um homem grande, com nariz adunco que, brincávamos maldosamente, chegava à sala antes dele. Foi nas longas cadeias de sinônimos que ele distribuía fartamente em suas frases e das citações que encontrei a paixão pela literatura e fui conhecer Fernando Pessoa, Cruz e Souza… Mais poetas, talvez pela forma como os sinônimos dançavam nas frase do Saliba.
Você pode pensar, então, que só vejo arte na arte, só vejo valor no subjetivo e que apenas os meus professores de letras me impressionaram, mas teve ainda o Lenilson e a Cristininha que ensinavam Geografia e História respectivamente no Sagrado Coração de Maria, e teve Alzinete, que nos parecia ter a idade das múmias do Egito (como somos más, nós as crianças adolescentes) e ensinava química.
Cada uma delas foram pessoa que colaboraram com um lance de escadas, um pilar. Outros me trouxeram salas inteiras, edifícios como o Miranda, professor de física no mesmo Tamandaré do Saliba. Sempre tive uma paixão por física.
O que todos eles tinham em comum está nesse vídeo aí.
Eles me ensinaram a ver o mundo como uma grande história que estamos construindo, aliás como uma grande cidade repleta de becos ainda por descobrir, subterrâneos que desafiam nossa imaginação e percepção e, acima de tudo, que estamos sempre em transformação!
Sinto, no final das contas, que não há o que eu possa escrever, o que possa fazer que seja homenagem suficiente para esses homens e mulheres que me ajudaram a estar nesse mundo!
(e me desculpem, professores que não citei, há dezenas de outros tão importantes quanto esses aí acima, mas a memória não quis trazê-los agora, apesar de estarem sempre guardados em salões nobres da minha consciência)