A foto que ilustra o post é Denise Stoklos por Thaís Stoklos (material promocional). Quem assistiu “Vozes Dissonantes” entenderá por que usei essa foto.
Antes de continuar: pode ler o post sem medo que eu conte algo que vai estragar a graça de ver o filme ou ler o livro. Eu n˜o gosto de fazer spoiler.
Então… Revisei em nov/2020 e notei que não faço spoiler da história, mas ao descrever o mundo onde a história acontece acabei revelando umas coisas que você pode preferir descobrir durante a leitura. Está dado o alerta!
A história
A Chicago do futuro é uma cidade cercada por um muro e dividida em cinco facções: Audácia, Amizade, Abnegação, Erudição e Franqueza.
O objetivo da divisão foi acabar com as guerras e cada grupo defende uma forma de impedi-las.
Quando as pessoas dessa sociedade chegam aos dezesseis anos elas passam por um teste que mostra para qual facção ela tem mais aptidão e, em seguida, ela escolhe em qual quer mesmo ficar. Normalmente as pessoas, independente do resultado do teste, optam por continuar na mesma facção em que nasceram.
Tris, nossa protagonista, entretanto tem “inconclusivo” como resultado do teste. Não é possível determinar para que facção ela tem aptidão e isso a torna perigosa para o sistema.
Nesse primeiro livro nós acompanhamos os questionamentos pessoais e descobertas da Tris conforme ela passa pelo processo de seleção para a facção que escolheu.
Sim, pois nem todas as facções aceitam todos os candidatos e, se você falha, acaba se tornando um sem facção. Um tipo de mendigo.
Para quem é?
Olha, considera-se que o público dele é um pouco mais novo que o de Jogos Vorazes, ou seja, lá pelos treze anos, mas isso não quer dizer que as pessoas de dezesseis vão achar chato, não vão, é só que ele tem uma estrutura menos complexa, tem menos questões políticas que a gente acha que um jovem humano de treze anos não vai perceber, mas é claro que muitos percebem.
Enfim, é uma história que não tem nada de infantil, mas não é complexa, entende? Acho difícil alguém achar bobo. Vou explicar logo abaixo por que acho difícil acharem bobo.
Por que é legal?
Em primeiro lugar o estilo literário é aquele bem pop que a gente l? sem ter que se esforçar ao contrário daquele tipo de literatura que temos que descobrir metáforas e significados escondidos no jeito de organizar as frases e construir as cenas (apesar de que eu adoro literatura assim).
Então é um bom livro para ler quando ficamos presos no trânsito, de bobeira esperando os amigos para ir ao cinema ou depois do almoço quando não temos disposição para fazer o dever de casa e não aguentamos mais ver TV ;-)
Só que é claro que não é isso que torna o livro legal, isso o torna fácil de ler, né?
Tem muitas coisas que achei legais na história.
Tem muito sangue!
Brincadeira, sou menino e até achei legal que não tenham subestimado os leitores escondendo a violência de uma facção que adora a coragem, mas essa não é uma das coisas que são muito legais. Aliás, acho uma pena que tenham tirado isso do filme, mas vou falar disso depois porque ainda não fui no cinema.
A primeira coisa bem legal é a Tris se descobrindo, sabe? Tentando entender qual é a natureza dela e tudo mais. Acho que, mesmo quando a gente já é adulto, estamos sempre tentando entender melhor quem somos, do que temos medo, que tipo de amigo a gente é, que tipo de amigo queremos ter.
Aliás os amigos são outro ponto bem legal da história. Não vou dizer muito, mas tem dois tipos de amigos ao redor dela. Os dois tipos são legais, mas a enxergam de formas diferentes. Vou deixar para você descobrir isso lendo o livro e dizer que tipo você preferiria ter.
A coisa de dividir a natureza humana em cinco facções também é bem interessante pois nos dá uma oportunidade para pensar não só em nós mesmos, mas nas diferentes formas de ver o mundo.
Talvez eu não dividisse nessas cinco facções, mas foi uma boa ideia ter uma que é erudição em vez de razão, uma que é abnegação em vez de fé e outra que é audácia em vez de coragem. Afinal, quem busca a razão vira um erudito arrogante? (sabe o que é erudito? É alguém que “tem vasto saber adquirido pela leitura”). Quem é religioso é abnegado? (nem todos dessa facção são religiosos, mas é uma tendência). Quem tem coragem desafia o tempo todo o perigo e é uma pessoa com tendência à violência?
Só de estimular esse tipo de pergunta já é legal. Acho que bons livros nos fazem pensar porque uma história que passa e só nos diverte é legal na hora, mas não deixa ecos, entende? Pouco tempo depois a gente até esquece de quase tudo que leu (a menos que você tenha excelente memória) e histórias que te fazem pensar continuam ecoando na sua cabeça por meses ou até anos.
Divergente é assim e espero que Insurgente e Convergente também! Conforme for lendo vou fazendo post para eles também.
O que é chato?
DR. É, tem um romance na história (oh! Não diga!? Hehehe) e acho que rola umas Discussões da Relação meio fora de hora e olha que sou um menino que gosta de DR, viu?
Tris, a protagonista é uma pessoa forte à beça, sabe? E tem horas que ela tem umas coisas de criança que eu acho que não combinam muito com ela e isso vem do que eu acho que tem de mais chato no jeito que a Veronica Roth escreve:
Eu acho que a Veronica força a barra da história para ela ficar mais comercial, para vender para mais gente, entende?
Sinto que as histórias tem uma vida própria, além dos planos que o autor tem para elas tem coisas que vão acontecendo no subconsciente dele (do autor) e que ele simplesmente se vê obrigado a colocar na história e isso torna tudo muito mais rico.
Divergente parece um tipo de história domesticada.
Veja bem, eu realmente não acho que isso torne o livro ruim. Eu gostei muito pois as coisas legais pesam bem mais do que esse jeito meio cimentado que eu vejo e, na real, outras pessoas podem não concordar que a autora fez isso de cimentar a história.
A última coisa chata é que, como hoje em dia, religiosidade parece sinônimo de odiar os outros e ser irracional. Dá um certo nervoso ao desconfiar que a história tem um certo tom religioso representado pelo carinho que a autora parece ter com a abnegação e a implicância que alimenta contra a erudição e a forma que a coloca como vilã.
No final do livro tem até uma página de agradecimentos que começa com Deus e Jesus Cristo.
Mas, olha, sou um crítico voraz dessas religiões modernas cheias de preconceito e, mesmo que a autora siga uma delas, eu acho que o livro não tem nada de fanático, mas nada mesmo. Só coloco como uma coisa chata porque, se você é uma pessoa religiosa de verdade ou humanista e está preocupada com o que está sendo feito com as religiões então pode ficar com uma pulga atrás da orelha conforme for lendo o livro (mas só se você for mesmo uma pessoa bem crítica, ok? Acho que a maioria pode até não concordar com essa minha implicância).
Além disso esse é o tipo de coisa chata boa, pois nos faz pensar no que é ou deveria ser religiosidade. Será que os religiosos modernos (esses que chocam tanto ateus quando outros religiosos) são abnegados? Erudição, coragem, amizade, sinceridade também não deveriam ser qualidades deles?
Aliás essas coisas não deviam ser qualidades de todos nós?
Conclusão
Ainda preciso ler os dois livros seguintes para dar um veredicto final, mas até aqui acho que é uma história que vale ser lida.
É uma aventura distópica (o contrário de utopia, ou seja, em vez do futuro ter dado muito certo ele deu muito errado) que nos leva a refletir sobre amizade, sobre nós mesmos, sobre moral, ética e até sobre religiosidade (bem de leve e só se esse for um assunto que já te interessa).
Apesar de ser mais simples que Jogos Vorazes levando algumas pessoas a dizer que é para um público na faixa dos treze anos ele é mais violento do ponto de vista físico. Tem bastante sangue e as pessoas se machucam de verdade.
Eu acho que jovens de onze a treze anos e até mais novos podem ler esse tipo de coisa; que ver a violência, em vez de nos tornar violentos, nos faz pensar melhor nela, mas isso é algo que cada família deve decidir, né? Uma família da abnegação não deixaria seus filhos lerem esse livro ;-)
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