Todo sábado, um conto 26 – clique para conhecer o projeto.

O Conto

– Como estão as coisas lá em baixo Twinkle?

– Humanos para todo lado, as luzes amareladas espantam a noite e eles parecem não notar muito a diferença como sempre Baruck.

Do alto da marquise do prédio comercial bem na esquina da Av. Nossa Senhora de Copacabana com Figueiredo Magalhães as duas fadas observam o formigueiro humano que nunca deixa de se movimentar. Twinkle observa munida de um binóculo de cobre bem polido apesar de ter várias partes amassadas (não existem muitas coisas retas e sem marcas do tempo no mundo das fadas, assim como não existem muitos troncos perfeitamente retos ou pedras perfeitamente redondas).

Um rosto humano aparece na janela logo atrás. Uma jovem mulher olha atentamente para a pequena vila e atira uma fatia de maçã. Olha à volta para ver se não tem alguém nos prédios ao redor espiando (nunca tem, todos mantém as janelas fechadas para isolar um pouco o barulho e a poluição) e fala com as fadas.

– Guardei essa maçã para vocês! Está tudo bem aí? Será que vai chover?

A fatia de maçã furada no meio pousa suavemente na praça central da vila encaixando no obelisco que protege o perímetro. Twinkle e Baruck se entreolham um pouco entediadas, os humanos cismam que fadas, gnomos e duendes precisam ser alimentados quando na verdade são eles que nutrem o mundo orgânico com suas emanações, mas há milênios o mundo mágico decidiu sustentar a farsa por compaixão pelos humanos para que se sintam mais úteis e menos nocivos.

Na verdade os humanos são irrelevantes para o mundo natural, quer dizer, eles interferem nos processos da vida ao tirar do solo os fantasmas das vastas florestas que dominaram o planeta há milhões de anos, antes de haver animais maiores que um musaranho, mas a vida não se importa muito com a forma que ela assume e as fadas existem desde que surgiu o primeiro sinal de consciência. Para elas também não faz diferença se a Terra está coberta de árvores ou de fungos.

– Nós agradecemos, Márcia! Olha, não vai chover mais do que umas poucas gotas aqui, mas lá para o fundo da terra vai cair uma água!

“Fundo da terra” é como as fadas se referem às regiões longe do mar. Também tem o “profundo da terra” que se refere ao que acontece bem abaixo do chão, dezenas de metros abaixo, pois para elas a vida das minhocas e dos pássaros fazem parte da mesma esfera.

Pois é, talvez você tenha notado: há humanos que enxergam as fadas. Bem, se você não notou sugiro que leia com mais atenção, mas não se irrite, tem muita coisa que acontece à nossa volta que deveríamos ver com clareza, mas não vemos. Você, por exemplo, já viu uma vila de fadas? Elas são bem comuns apesar das que ficam em marquises de esquinas movimentadas serem um pouco incomuns.

Márcia acha que a vila das fadas é uma homenagem da natureza para ela e que não estaria ali se ela não olhasse todo dia para ela e não atirasse um pedaço de fruta, umas linhas, agulhas, pequenos retalhos de tecido que as fadas usam para fazer roupas só para não ferir os sentimentos da humana que, afinal de contas, é movida por boas intenções.

Ela ficou grávida duas vezes, uma vez há 13 anos e outra há 14. Alex e Cris que ela cria sozinha já que o homem que participou resolveu desaparecer “para o bem da família” em suas próprias palavras.

Alex e Cris também conseguem ver a vila, mas de uma forma diferente. Não como algo medieval como sua mãe vê, mas como um tipo de acampamento com cabanas de lona. Cada humano vê o mundo mágico de um jeito, mas há muito tempo não enxergam como ele realmente é.

– Posso me sentar aí com vocês um pouco?

A Márcia balança uma toalha da Sininho da Disney que ela coloca sobre a marquise para se sentar sem se sujar. Ela acha que isso é engraçado.

Todas as outras fadas estão dormindo, fadas não costumam permanecer acordadas depois que o sol se põe. Baruck e Twinkle são parte do comitê de vigilância que observa e documenta os comportamentos humanos; é um tipo de pesquisa científica até onde se pode dizer que fadas fazem pesquisas científicas. Seria melhor chamar de curiosidade.

A vila deve contar com perto de 300 fadas e é impressionante como elas são silenciosas ao dormir considerando o barulho que fazem durante o dia: músicas, cantorias, marteladas e o som das asas velozes cortando o vento.

Baruck e Twinkle servem uma caneca de leite de caramujo de bambu para Márcia. Não pergunte onde fadas acham leite de caramujo de bambu no meio do Rio de Janeiro, elas nunca respondem. No máximo dizem “se você não percebe não cabe a nós mostrar”. E não faça essa cara de nojo! Por que você acha que leite de caramujo seria mais nojento que um líquido preto que ninguém entende bem como é feito? E também não gaste seu tempo imaginando como um humano enorme pode beber na caneca de uma fada tão pequena, apenas aceite que, na mão dos humanos, a caneca é do tamanho de qualquer outra caneca, tá? Até meio grande e desajeitada já que é feita de tronco de árvore oco.

– Vocês são fadas, fadas entendem de amor, não é? Alex está às voltas com uma paixão não correspondida! Cris só faz chacota dizendo que se apaixonar é nojento ou que é coisa de gente boba. E eu? Bem, o pai vocês sabem, né? Nunca mais deu as caras, nem sei em que cidade está morando. Minha vontade é dizer para não se apaixonar nunca por ninguém, mas… Bem… Volta e meia eu me apaixono de novo também, né? Alex chega em casa, faz o dever da escola e enfia a cara debaixo do travesseiro, fica vendo séries e chorando, diz que é impossível, que lhe falta talento para disputar o amor com alguém do colégio que tem todas as habilidades imagináveis: força, carisma, inteligência… Parece que Alex acha que a vida é um jogo de RPG… Tô falando demais? Vocês sabem o que é RPG? Bem, é um jogo, as pessoas criam personagens com atributos e… Bem, não importa, o que importa é que não é bem assim, né? A gente se apaixona por outras coisas… Mas que coisas? Eu nunca sei o que me fez ficar apaixonada, então como posso aconselhar Alex?

Os olhares atentos de Twinkle e Baruck são engraçadíssimos, uma mistura de perplexidade e empatia. De vez em quando se entreolham rapidamente como se dissessem “E agora? A humana disparou! Como faz para parar?”. Imagine dois minions dando atenção a um humano. Há quem diga que fadas são consultoras dos roteiristas de Meu Malvado Favorito…

– Márcia… A gente nunca pensa em amor ou paixão, a gente só ama e se apaixona. Vocês humanos complicam muito as coisas, né?

Baruck responde já que é a mais velha das duas apesar de ser jovem ainda, tem pouco mais de mil anos, e Twinkle não passa muito dos 500.

Márcia olha para as duas, talvez uma seja um fado e a outra uma fada, ou podem ser dois fados? Ou duas fadas. É quase impossível dizer já que as próprias fadas não prestam atenção nisso. A gente só sabe que era uma fada e um fado quando, depois de voarem fazendo lindos desenhos pelo ar, surge uma nova fada do encontro. Isso é algo que a Márcia descobriu rapidamente depois que começou a ver o mundo sutil há poucos anos.

– Queria poder deixar Alex morando com vocês um tempo… Se isso fosse possível…

Na verdade seria uma tolice. Humanos podem ser como fadas na hora que quiserem, não precisam morar com elas para aprender a pensar ou sentir como elas, afinal fadas simplesmente vivem e sentem conforme o vento, o crescimento dos ramos das árvores, os movimentos da terra se ajustando aos túneis das minhocas. É verdade que humanos estão cercados de paredes e o chão é pavimentado com piche, sinteco ou lajotas, mas tudo isso é apenas uma casca fina como a do ovo e, fechando os olhos um pouco (ou abrindo, dá mais ou menos no mesmo), está tudo lá para quem quiser ver.

– Você sabe, né Márcia, nós não estudamos, não temos empregos, relógios, compromissos… A gente vai fazendo o que aparece para fazer. Humanos em geral não podem viver assim… Aliás, humanos não deviam viver assim, vocês vieram da Terra, mas não estão destinados a ficar só nela para sempre. Vocês precisam buscar outras realidades e, enquanto não conseguem fazer isso, as inventam aqui mesmo na Terra. Não seria muito útil para Alex viver entre nós… Você lembra de ter sido bom para algum humano viver conosco, Baruck?

Os olhos de Baruck estão arregalados, mas a Márcia não nota, ela está perdida nos pensamentos disparados depois que Twinkle falou em “vieram da Terra, mas não estão destinados a ficar só nela…”.

– Não é uma boa ideia deixar os humanos saberem que viver conosco é uma possibilidade! – Baruck sussurra para Twinkle – Felizmente acho que ela não se tocou!

Márcia nunca tinha pensado nisso… Na Terra ter produzido uma vida para espalhar a vida fora da Terra. Faz os humanos parecerem tão importantes e ela sempre pensa em como somos ruins para a Terra… Como se não existisse um plano para os humanos o que é estranho já que quase todo mundo acha que existe um Deus que os criou com uma missão especial. Pensando bem não faz sentido, não é? Achar que o criador do Universo fez um livro para os humanos e não um para as fadas, para os suricatos ou para os pinguins e ao mesmo tempo achar que os humanos são uma doença no planeta. Será que no fundo quase ninguém acredita nessa história de Deus e livro de Deus? Mas o importante agora é o coração de Alex! Cris ainda está em outra e não desperta preocupação.

– Tem razão Baruck! Viver como fadas não seria um avanço para nós, né? Assim como viver como humanos não seria um avanço para as borboletas… Mas o que eu falo para Alex? Como dar dicas para se fazer notar por quem a gente ama? Aliás, será que é amor ou é paixão?

Toca o celular da Márcia.

– Hein?

É assim que a Márcia atende quando é Alex ou Cris.

Ela escuta sem falar nada, escuta por um longo tempo.

– Calma, tá? Vocês se juntaram para estudar… – pausa para ouvir – Na biblioteca… Só tinha a bibliotecária lá… – nova pausa, quase dá para ouvir a voz acelerada de Alex do outro lado – Contato visual… Deu mole… Você tomou coragem… – Márcia está repetindo para confirmar e para Baruck e Twinkle perceberem que é Alex vivendo sua paixão… Ela cochicha para as fadas “Alex”; “Beijou”; “Na biblioteca” – Quer dizer, que ótimo! Digo, foi correspondido? Foi bom? – mais silêncio – A língua era estranha? – Márcia arregala os olhos, o primeiro beijo de Alex… Uma parte dela se preocupa porque beijos levam a expectativas e expectativa leva a sofrimento e ela não quer que Alex sofra, mas fazer o que, paixão, amor, viver… Isso tudo é como uma torta de maçã que sempre leva uma pitada de sofrimento aqui ou ali.

Baruck e Twinkle entregam o que parece uma folha de babosa para Márcia e fazem gestos com as mãos e os pequenos dentes para que ela coma a folha, é só comida, mas fadas acham que comer acalma e clareia as ideias além de tranquilizar o coração.

– Eu ia esperar o trânsito melhorar, mas vou encontrar com você logo, tá, Alex? Que tal no Shopping? Aí vamos de metrô e nos encontramos mais rápido que em casa… Não, não… Claro, no shopping mais longe de casa para não correr o risco de encontrar com ninguém.

Márcia desliga e vê que tem uma dúzia de fadas olhando para ela agora. Fadas adoram histórias de amor ou de paixão. Tanto faz para elas. São duas coisas totalmente diferentes, mas são igualmente intensas e fadas gostam de intensidade. Outras portinhas se abrem e mais fadas vão se juntando ao grupo, algumas já tiram os instrumentos musicais de pequenas mochilas ou grandes caixas. Um vento mais forte agita os cabelos da Márcia, ela ainda não aprendeu a ver o mundo mágico em todo seu esplendor, ainda acha que são pequenas e frágeis vilas de seres muito pequenos que se instalam em vãos da nossa civilização. Ela não percebe que o vento vem junto com centenas de silfos do ar do tamanho dela que voam ao redor de um troll que vem caminhando entre os prédios, o joelho dele na altura do quarto andar do prédio. A vila das fadas na verdade se estende entre árvores translúcidas para os olhos humanos mais atentos, do tamanho de montanhas e as próprias fadas são maiores que a Márcia, mas ela vê apenas a pequena vila timidamente plantada na marquise suja e a minúscula banda de fadas que toca algo para animá-la e colocar seu espírito pronto para lidar com os humores adolescentes que oscilam da euforia para a depressão como rajadas de vento antes das tempestades de verão.

– Alex está preocupada porque o nome da menina é Márcia e é estranho namorar uma menina que tem o mesmo nome da mãe! Eu conheço a menina e elas duas farão um casal lindo! Eu bem que desconfiava que seria por ela que a Alexandra se apaixonaria. Elas são tão diferentes uma da outra que é claro que ia acabar em uma grande amizade ou uma grande paixão, mas ela agora quer saber se é amor ou paixão. Bobinha… Como se isso fosse importante! O que me preocupa mais é ela querer conversar comigo sobre o namoro… Os pais deveriam ser a última pessoa para quem a gente conta essas coisas, né? Será que ela está com poucos amigos? Ou será que ela já falou com eles? Bem, a gente só tem uns dois ou três melhores amigos de cada vez para quem contamos essas coisas, né? O que vocês acham?

Agora já tem um número incontável de fadas acordadas, muitas voam ao redor dela, outras preparam uma longa mesa com comes e bebes, fadas adoram desculpas para festas e os movimentos do coração são as melhores razões para festejar, é quando a gente sai de dentro de nós mesmos para viver um pouco dentro um do outro também. Essa é a mágica mais incrível de todas, pelo menos para fadas, gnomos, elfos, duendes e até para os brutamontes trolls e os diáfanos silfos do ar, da água, do fogo…

Aliás a festa já se anima com pequenas colunas de fogo aquecendo a comida, névoas refrescando o ambiente e outros silfos assumindo as mais diversas formas. Márcia se encanta e agradece pela atenção, pega alguns potinhos para levar para Alex e recebe uma cartinha escrita em uma folha seca cheia de votos de boa sorte e assinaturas das fadas e dos visitantes.

Talvez alguém nos prédios ao redor tenha visto uma mulher excêntrica sentada sobre uma toalha da Sininho sobre a marquise, talvez alguém tenha até visto que ela conversava com outras duas mulheres (humanos sempre acham que fados são fadas) ou talvez ninguém sequer tenha notado o desenrolar da história assim como ninguém percebe que a garota vesga no metrô na verdade está olhando para uma fada pousada no próprio nariz e só vejam que ela está com um garoto e uma garota conversando sobre as trivialidades dos adolescentes, sobre quem vai ficar com quem, de não ser mais virgem de beijo de língua e sobre um beijo significar ou não que está namorando.

– Jura que você vai contar tudo para sua mãe Alex? Eu nunca contaria para os meus pais! Acho que só vou contar para eles que estou namorando quando tiver o segundo filho!

Marcos não entende como um adolescente pode ser amigo dos próprios pais, a ideia é aterradora para ele que precisa da segurança de ter pais distantes, mas no fundo ele sabe que poderia contar, quem não poderia é a Jô que salta com ele na mesma estação enquanto Alex continua para encontrar com a mãe no shopping em Botafogo.

[12h04] Dá vontade de escrever mais. Está agradável, mas vou deixar assim, o mais importante acho que está aí. A amizade da mãe e da filha, a descoberta da primeira paixão ou do primeiro amor e um pouco de magia das fadas[/]

Vlog

Processo Criativo

Ideias para o conto

  1. A vida de uma vila de fadas, elfos e trolls que fica na esquina da Nossa Senhora de Copacabana com Figueiredo Magalhães
  2. Helinho vai à padaria: Hélio, 12 anos, chega em casa do colégio antes dos pais todo dia e cuida do próprio lanche. Nesse dia ele esquece de passar na padaria e decide ir mesmo sabendo que os pais podem ligar para saber se ele está em casa e se está tudo bem.
  3. Posto Avançado – Terra: Século XXIX. A Terra é um posto avançado da nossa civilização, as visitas a ela são proibidas e sua população é restrita a cientistas pois é o único repositório viável dos modelos genéticos que usamos para manter a vida no espaço e em outros planetas. Márcia está em seu solitário estágio de seis meses numa torre de vigilância entre a Terra e Marte e terá um encontro inesperado com uma clandestina de 16 anos que chega numa nave automática de serviço com provisões.

[8h12]

Vou ficar com o primeiro: a vila de fadas e outros seres mágicos na esquina da Nossa Senhora de Copacabana com a Figueiredo Magalhães (uma das esquinas mais movimentadas do mundo de acordo com uma pesquisa antiga).

Quando tive as três ideias na semana passada a história do Helinho era a minha preferida, mas ela não amadureceu do sábado passado para cá e era uma história delicada. Histórias delicadas exigem dedicação e carinho. As de fantasia podem ser escritas com menos comprometimento.

Tem várias inspirações para essa vila de fadas. A primeira é Artemis Fowl (tradução de Alves Calado) pois a ideia é que alguns humanos interajam com esses seres como se fossem um tipo de submundo, já comento porque submundo, o que nos leva imediatamente às crônicas de Spiderwick que acontecem longe da civilização, só que quero trazer o mágico para os corredores de asfalto e concreto.

Também tem influência de um universo de fantasia que alimento faz muito tempo e é outro candidato para virar livro. Nesse outro universo as cidades se instalam sobre o mundo natural, mas não são capazes de abafar a vida que acaba aflorando em pontos mágicos em miolos de quarteirões onde persistem pequenas praças ou vilas de casas bem arborizadas.

Nesse conto estou indo além disso e colocando que o mundo natural encontra espaço no mundo virtual que criamos. Como o ficus que cresce na parede de um prédio ou do mato que se instala numa marquise.

Ao trazer o mágico para os prédios frios quero nos lembrar que, por mais que nos afastemos do mundo onde nos desenvolvemos e nos escondamos em mundos virtuais, somos parte da natureza.

[8h24] É impressionante como, imediatamente depois de publicar o link no Twitter, aparecem 16 leitores. Tenho quase certeza que isso são robôs que ficam verificando tudo que é publicado lá no Twitter… Faz pensar em como tem empresa interessada no que acontece por lá, né? Se você entrou agora e não é um robô dá um olá lá pelo Twitter :) [8h26]

… somos seres ligados a memórias e instintos atávicos, preparados para reagir ao mundo natural e não ao mundo moderno. Isso cria muita tensão, medo, perplexidade e o pior é que nem notamos pois nascemos dentro desse mundo virtual moderno há séculos.

Por isso a vila das fadas da Nossa Senhora de Copacabana com Figueiredo Magalhães é marginal. Ela é um “posto avançado” da nossa natureza real num mundo incompatível… alienígena… Bem, acho que dá para entender a ideia.

Agora falta… Bem, falta tudo! Hahahaha!

Tenho em mente várias coisas a respeito da vila. Ela é de fadas e os trolls, elfos, duendes e outros seres apenas passam por lá, são nômades talvez indo de um oásis natural para outro. Alguns são párias rejeitados no mundo natural por seu interesse em se integrar ao mundo humano.

A vila das fadas em si não é uma dissidência, elas estão ali para observar o mundo que estamos inventando muito embora algumas sejam realmente subversivas que acham que vale a pena pelo menos pensar em integrar os dois mundos, que os dois podem ganhar um com o outro.

O que não tenho é a trama. O que está acontecendo, que humanos vão interagir com a vila? Não serão adolescentes a princípio e sim adultos que nunca deixaram de ter dúvida sobre o chão em que pisam, que mantiveram aquela curiosidade e flexibilidade de pensamento da criança. No entanto qual é o negócio deles com as fadas? E o negócio delas com eles? Vou contar a história de como se conheceram? Foi ainda na infância dos adultos? Hummm? Não… É mais interessante que os adultos tenham reconquistado a capacidade de ver o mundo por outras lentes do que terem se mantido…. místicos…

[8h37] Pensando…[8h53]

Ótimo, um monte de ideias como as fadas parecerem pessoas normais para quem está vendo uma pessoa conversando com uma fada, trolls serem gigantescos e andarem entre os prédios quase encostando os ombros nas paredes e terem séquito de silfos do ar como os tubarões tem rêmoras, mas nada de descobrir qual é a trama.

A ideia que me passou é que o mundo mágico é invulnerável aos males da poluição etc. e nesse caso seriam as pessoas na história que precisariam das fadas, mas para quê? Ver melhor a realidade? Resolver um crime? Desvendar algum mistério?

Hummm… Pode ser uma história humana comum em que o mundo das fadas aparece como uma forma de escapar do ciclo vicioso do pensamento humano… De encontrar outro viés cognitivo, de escapar de falácias que nos cegam… Tô gostando disso.

O adulto está perdido em como lidar com um filho ou filha adolescente? Não vou dizer qual é o sexo do filho ou filha! Afinal, no que é essencial, nossos problemas são muito parecidos e grande parte das diferenças são colocadas artificialmente por nossa cultura.

Sim, isso! Uma influência de Garoto encontra Garoto do David Levithan (tradução de Regiane Winarski) que estou acabando de ler.

Preste atenção, não se trata de fazer de conta que as diferenças de gênero não existem como se bastasse ser humanista e não feminista para que o problema sumisse, mas apenas de construir uma história em que essas diferenças não sejam relevantes focando no que temos em comum. É meio difícil não definir gênero ao escrever em português, principalmente com limite de tempo para escrever, mas vamos tentar!

Também não quero que o mundo mágico seja nem uma fuga e nem um mero escravo das necessidades humanas. Tenho que ficar atento a isso.

O problema agora é mais o começo pois já dá para ter uma ideia do meio já que os problemas adolescentes são um universo limitado e isso já puxa o final.

Esse começo será crítico justamente para deixar claro que o mundo mágico é independente dos humanos.
[9h08] Tomando café [9h17]